Depois de anos de pedidos por parte da comunidade, a Ubisoft finalmente mergulha no Japão feudal com Assassin’s Creed Shadows. Disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, o jogo marca uma nova fase na franquia ao equilibrar os elementos clássicos de furtividade com combates brutais e uma narrativa focada em personagens mais humanos e realistas.

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História

A trama de Assassin’s Creed Shadows não foge completamente da fórmula da franquia, mas se destaca por seu pano de fundo e pela forma como aborda o desenvolvimento emocional de seus protagonistas. Em um Japão à beira de uma transformação sociopolítica profunda, acompanhamos dois personagens principais com motivações diferentes, mas complementares: Naoe, uma shinobi em busca de vingança após a destruição de sua vila, e Yasuke, um samurai africano que luta para encontrar seu lugar em uma sociedade estranha e rígida.

A presença de figuras históricas como Oda Nobunaga e Hattori Hanzo adiciona uma camada de autenticidade e peso histórico à narrativa, ainda que o jogo opte por não se aprofundar tanto nas complexidades políticas da época. A dualidade entre vingança e autoconhecimento, entre tradição e mudança, impulsiona a jornada e sustenta boa parte do apelo narrativo. No entanto, a previsibilidade da trama — com traições e revelações esperadas — tira parte do impacto dramático. O jogo não reinventa a narrativa da franquia, mas a conduz com competência e sensibilidade, especialmente nas interações mais pessoais entre os protagonistas e seus aliados.

Jogabilidade

Shadows se destaca ao apresentar duas formas de jogar diferentes, oferecendo ao jogador a possibilidade de alternar entre o combate furtivo de Naoe e o confronto direto de Yasuke. A shinobi representa o lado mais tradicional da série: escaladas, assassinatos silenciosos, uso de ferramentas como kunais, bombas de fumaça e kusarigama — tudo pensado para criar uma experiência tensa. Qualquer erro pode ser fatal, o que exige estratégia e observação cuidadosa do ambiente.

Yasuke, por sua vez, incorpora a força bruta. Seu estilo é mais próximo ao de RPGs de ação, com golpes poderosos, resistência aumentada e combate mais direto. Ele carrega armas como naginatas, porretes e uma espingarda, e é capaz de enfrentar múltiplos inimigos sem a necessidade de furtividade.

Embora ainda existam elementos de RPG, como níveis e árvores de habilidades, o foco volta à habilidade do jogador em vez da progressão por números. A Ubisoft acerta ao equilibrar o peso da estratégia com a liberdade de escolha — é possível alternar o estilo de jogo conforme a situação, o que traz dinamismo e variedade ao gameplay.

O mapa, por sua vez, é denso e bem estruturado, oferecendo recompensas e desafios com frequência. Pontos de conhecimento substituem os clássicos “XP” para liberação de habilidades, incentivando a exploração de tumbas, castelos e santuários. Além disso, minigames como treinos de kata e Kuji-Kiri aprofundam a conexão com o universo dos personagens, indo além da simples progressão mecânica.

Gráfico e trilha sonora

Visualmente, Assassin’s Creed Shadows é um dos jogos mais belos da série. A recriação do Japão feudal impressiona pela atenção aos detalhes: das florestas de bambu aos templos isolados, das vilas camponesas aos castelos fortificados. A mudança dinâmica de clima e horário afeta tanto a estética quanto a jogabilidade, reforçando a imersão.

A direção de arte é coesa e respeitosa com os elementos culturais japoneses, retratando fielmente os estilos arquitetônicos, vestimentas e tradições locais. Os mercados vibram com vida, os rituais religiosos são carregados de significado, e até os animais — como cervos, macacos e gatos — adicionam camadas ao ecossistema do mundo aberto.

A trilha sonora acompanha essa qualidade. Com composições que mesclam instrumentos tradicionais com arranjos modernos, a música ambienta com perfeição tanto os momentos contemplativos quanto os combates intensos. O destaque vai para o modo imersivo de áudio, no qual os personagens falam seus idiomas nativos, oferecendo um realismo linguístico que eleva ainda mais a experiência narrativa.

Contudo, a dublagem em português do Brasil carece de consistência emocional. Em algumas cenas, a entrega soa deslocada, prejudicando o impacto dramático.

Problemas técnicos

Apesar da qualidade geral, Shadows não escapa dos problemas técnicos. Bugs de animação, inimigos travados em cenários, comandos que não respondem de imediato e glitches visuais são relativamente comuns. Em determinados momentos, cutscenes travam completamente, forçando o jogador a reiniciar o console ou pular sequências importantes.

Além disso, algumas atividades no mundo aberto sofrem com repetição. Missões ligadas a templos e santuários, embora recompensadoras, perdem o apelo após serem repetidas diversas vezes. A IA dos inimigos, embora funcional na maior parte do tempo, ainda mostra comportamentos estranhos, principalmente ao lidar com táticas furtivas mais complexas.

Veredito

Assassin’s Creed Shadows é, sem dúvida, um dos jogos mais divertido da franquia nos últimos anos. Ele não tenta reinventar a roda, mas a refina com inteligência, apostando em uma ambientação inédita e envolvente, dois protagonistas marcantes e um sistema de jogabilidade variado e recompensador.

Pontos positivos:

• Ambientação visual e histórica deslumbrante;
• Protagonistas com estilos de jogo distintos;
• Retorno ao foco em furtividade e estratégia;
• Trilha sonora e direção de arte;
• Mundo aberto denso e vivo.

Pontos negativos:

• História previsível e com reviravoltas pouco impactantes;
• Missões repetitivas em algumas atividades secundárias;
• Problemas técnicos, incluindo bugs;
• Dublagem em português do Brasil com qualidade irregular.

Nota: 8.5