Vidro: entre o real e o insano dos super-heróis

18/01/2019 - POSTADO POR EM Filmes

19 anos depois de “Corpo Fechado” (2000), M. Night Shyamalan fecha uma trilogia que ninguém suspeitava acontecer até o final de “Fragmentado” (2017). Agora, a franquia planejada por muitos anos chega ao seu ápice em “Vidro”, onde o encontro dos protagonistas tenta responder uma pergunta deixada ainda no seu primeiro filme: super heróis podem de fato existir, ou são só invenções de mentes com criatividade demais?

O retorno de um vigilante

A aparição de David Dunn (Bruce Willis) na cena final de “Fragmentado” (2017) foi o plot twist à lá Shyamalan que mostrou a ideia do diretor em expandir o universo de “Corpo Fechado” (2000). Na virada do século, os filmes de heróis ainda não eram um gênero estabelecido. Shyamalan ousou em apresentar um personagem como David, aparentemente indestrutível e com uma força anormal, e classificá-lo como um herói pelo seu antagonista, Elijah Price (Samuel L. Jackson).

Em “Vidro”, David aceita o seu dom, e o utiliza para fazer justiça com as próprias mãos. Porém, seu foco é outro: encontrar a Horda. Ele se refere a Kevin Crumb (James McAvoy), que está à solta desde o fim de “Fragmentado”, e continua raptando garotas “puras” para satisfazer a Besta, uma de suas 24 personalidades, e aquela mais animalesca. 

Quando os dois finalmente se enfrentam, em uma das únicas cenas de ação do longa, suas forças são equivalentes, mas são interrompidos e presos pela Dra. Ellie Staple (Sarah Paulson) para uma clínica psiquiátrica.

Foto: Divulgação

Tratamento por convencimento

Isolados, David e Kevin estão sendo monitorados junto a outro indivíduo singular: Elijah, ou como ele prefere ser chamado, Sr. Vidro. A médica afirma que os três possuem uma condição peculiar em comum: acreditam ter habilidades especiais. A missão dela é tentar convencê-los, em três dias, de que seus “poderes” não passam de imaginação, e que isso os prejudica.

David com sua superforça e resistência, Kevin com suas múltiplas personas dominadas pela Besta, e Elijah com sua inteligência fora dos padrões. Nenhum deles quer ceder aos argumentos de Ellie. Principalmente Elijah.

Para o Sr. Vidro, os indivíduos como eles devem ser mostrados ao mundo não como doentes mentais, mas como heróis de histórias de quadrinhos. E seu “personagem” nesta narrativa tão reproduzida nos gibis é um vilão incompreendido e desvalorizado, que precisa de ajuda para escapar daquele lugar, se aliando com seu semelhante, Kevin, e suas personalidades. Juntos, devem provar ao mundo que super heróis andam entre nós, e que não deveriam ser taxados como insanos, mas sim reconhecidos por seus méritos.

Foto: Divulgação

Personalidades conflitantes

A expectativa para o embate entre o trio principal é construída muito bem durante todo o filme. Cada um possui uma paleta de cores preponderante quando aparece em cena: o verde de David Dunn. o amarelo de Kevin Crumb e o roxo de Sr. Vidro. Todos eles foram bem desenvolvidos nos filmes passados, deixando os atores à vontade para tirar o melhor de suas interpretações.

O destaque, mais uma vez, vai para James McAvoy, que em questão de segundos muda a persona em foco da cena, com trejeitos, olhares e vozes distintas, explorando ainda mais a variedade de personalidades e o potencial tanto do personagem quanto do ator.

Bruce Willis e Samuel L. Jackson, por outro lado, não possuem tanto tempo de tela quanto deveriam, principalmente para o Sr. Vidro, que deveria ser o protagonista desta vez. Spencer Clark retorna como Joseph Dunn, filho de David, assim como Charlayne Woodard no papel de mãe de Elijah e Anya Taylor-Joy como Casey. Eles pouco aparecem em cena, mas tem sua importância para a trama.

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Veredito

Se você assistir o filme esperando o clássico plot twist de Shyamalan, pode ficar satisfeito, pois há três em “Vidro”. O primeiro funciona muito bem, enquanto os outros dois parecem jogados de modo forçado no roteiro, principalmente o segundo.

No fim, Shyamalan encerra uma trilogia que demorou a se concretizar, mas que o firma como um excelente diretor, mesmo desacreditado por muitos. Embora “Vidro” seja o mais fraco entre os três filmes, ele ainda possui qualidades suficientes para fechar o arco dramático de personagens tão memoráveis.

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