Veredito de Voo 168 – A tragédia da Aratanha

24/02/2022 - POSTADO POR EM Filmes

A maior tragédia aérea da história do Ceará completa 40 anos em 2022. A queda do voo 168, um Boeing da Vasp, na Serra da Aratanha, em Pacatuba, vitimou 137 pessoas na madrugada de 8 de junho de 1982. Um dia de terror para o Brasil em um dos piores acidentes de aviação do país.

Para relembrar o drama da época, o jornal O Povo produziu seu 1° longa-metragem focado nesse caso. O filme Voo 168 – A tragédia da Aratanha tem uma direção conjunta de Arthur Gadelha, Cinthia Medeiros e de Demitri Túlio. O Roteiro Nerd assistiu o documentário, já disponível no site O Povo Mais, e contamos aqui nossas impressões.

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Inversão de ordem

Normalmente, um documentário segue a seguinte linha narrativa: contextualização > escalonamento > fato > repercussões. Voo 168 não segue essa ordem. De cara, são expostas várias entrevistas de envolvidos na operação dos bombeiros e da polícia e de habitantes locais que foram, no cearensês, “curiar” o ocorrido. 

O peso das imagens dos destroços do avião, dos pertences das vítimas e do cansaço das equipes de resgate e de reportagem já impactam nos 30 minutos iniciais. 

Apenas depois que o frenesi da tragédia vai baixando é que nos é apresentado, com calma, o contexto daquele voo e da vida de vítimas selecionadas.

A intenção aqui é levar o espectador ao ambiente da época: um avião caiu, não se sabe a causa, quem estava nele, quem sobreviveu ou morreu. Tudo isso é explicado horas depois, assim como a ordem do documentário.

De certa forma, essa emulação da experiência de 1982 funciona pelo baque repentino do áudio dos tripulantes e das fortes cenas de tristeza das equipes policiais ao constatar que não haviam sobreviventes.

Porém, essa escolha estrutural prejudica a construção dramática de conhecer, mesmo que rapidamente, a pessoa dentro do saco jogada pelo helicóptero no campo de futebol da cidade. 

Imagem: Divulgação

Interação com entrevistados

Um documentário não é nada sem uma boa variedade de entrevistas para ajudar em todas as fases de seu desenvolvimento, desde a pré-produção até o corte final na montagem.

Voo 168 trouxe, principalmente, a rotina de jornalistas que cobriram o evento, contando os desafios físicos e mentais de levar informação diante de um cenário de luto extremo. 

O relato desses profissionais é o ponto alto do longa, com destaque para o de Leda Maria. A jornalista voltava de São Paulo, onde participou da Feira Internacional da Indústria Têxtil, assim como vários outros no avião. Entretanto, Leda pegou um voo mais cedo, escapando da morte e assustando companheiros que souberam do acidente de manhã. 

O que faltou de material nos 80 minutos da produção foram aspas de pilotos ou de especialistas em aviação, para deliberar quanto aos erros dos membros da cabine. 

A informação sobre a possível falha humana é reservada para apenas um parágrafo em cartela, no minuto final da obra. Uma contextualização que caberia no começo do documentário.

Imagem: Divulgação

Veredito

Voo 168 – A tragédia da Aratanha é um ótimo produto jornalístico que resgata os efeitos daquele desastre na população cearense até hoje. A câmera paciente nos caminhos e nas conversas com as fontes aliada às belas imagens de drone no pé da Serra engrandecem o documento visualmente.

Sua qualidade formalista, porém, não é acompanhada no nível emocional. São poucos os momentos de entrevista que percebemos uma conexão mais pessoal com as vítimas.

O tempo dado às fontes da cidade poderia ser melhor aproveitado em relatos de amigos e parentes de quem estava na aeronave – somente dois desses perfis foram apresentados na obra.

Os 40 anos pesam para todos os envolvidos naquele fatídico dia, com muitas perguntas ainda sem respostas e com um lamento pela saudade que sobrou para os queridos das 137 vidas perdidas.

Pontos positivos

  • Aspecto formalista de ótimo nível

Pontos negativos

  • Pouco foco em entrevistas com amigos e parentes das vítimas

NOTA: 7