Veredito de Triângulo da Tristeza

22/02/2023 - POSTADO POR EM Filmes

Triângulo da Tristeza venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2022, sendo a 2ª vitória da carreira de Ruben Östlund, feito conquistado por uma seleta lista de nove cineastas. A comédia escrita e dirigida pelo diretor sueco está concorrendo ao Oscar 2023 nas categorias de Melhor Roteiro Original, Direção e Filme. 

A Amazon Prime Video anunciou que o longa chega ao catálogo da plataforma no dia 2 de março, poucos dias antes da premiação. Quais são suas chances de levar uma estatueta? Vamos discutir.

Viagem da vergonha 

Carl (Harris Dickinson) é um modelo em ascensão e namora a influenciadora Yaya (Charlbi Dean), convidada para um iate de luxo junto de figurões da “alta sociedade”. O que deveria ser um período de tranquilidade para o casal em crise se torna um roteiro cringe mal planejado durante o passeio. 

Da mesma forma, o que poderia ser uma boa comédia que tira sarro de ricos nunca alcança de fato um humor mais genuíno ou mesmo uma crítica agridoce ao grupo de magnatas. A impressão é que Östlund tenta replicar a proposta de White Lotus, porém permanece no nível de comentário social de uma novela das 19h brasileira. 

Não há sequer um momento que tire uma risada natural de qualquer personagem. Os discursos se aproximam mais de “eu sou milionário, mas não tenho charme, olhe como sou bobo!”. Durante 70 minutos, o filme vomita superficialidades – literalmente, há uma sequência de vômitos coletivos sem peso algum – que nos distancia de qualquer personagem.

Inclusive, o casal protagonista é totalmente escanteado após um começo que prometia um desenvolvimento além de “quem deveria pagar a conta”, retornando apenas no terço final do longa.

Imagem: Divulgação

Inversão de papéis

Se existe uma parte de Triângulo da Tristeza que traz o mínimo de entretenimento, é sua parte final. Ver ricos isolados e ridicularizados em uma ilha rende um pouco de diversão.

Quando a figura de Abigail (Dolly de Leon), uma funcionária de serviços gerais do iate, desafia as ordens de sua chefe Paula (Vicki Berlin), o longa assume a ideia de conflito de classes de maneira mais criativa. Fosse isso a maior parte das 2h30 de duração, talvez a obra se importasse mais com o campo prático de sua proposta do que com o campo teórico preguiçoso e sem estrutura sustentável.

Imagem: Divulgação

Veredito

Östlund já mostrava seu desejo de espremer comédia em terrenos inférteis em The Square (2017), outro exemplo seu de crítica azeda, dessa vez voltada para a área artística.

Triângulo da Tristeza tenta passar a imagem de ser mais esperto do que realmente é com uma sequência entre um russo liberal e um estadunidense comunista lendo citações, porém com um debate da profundidade de uma tampa de xarope.

A indicação deste longa ao Oscar é, no mínimo, questionável. É por causa dessas escolhas sintomáticas que grandes premiações do cinema estão cada vez menos relevantes. Não importa o quão rasa seja a construção de uma identidade própria por meio de elementos da linguagem, basta o tema guarda-chuva abarcar uma problemática mais moderna que está valendo.

Ponto positivo

  • Parte final na ilha com o mínimo de diversão

Pontos negativos

  • Vergonha de assumir tom de comédia espalhafatosa
  • Preguiça de aprofundar qualquer discussão social
  • Casal protagonista esquecido na maior parte

Nota: 3,5