Veredito de Tár

11/02/2023 - POSTADO POR EM Filmes

Qual o limiar entre separar a obra do artista e o ponto em que a cultura do cancelamento afeta seu trabalho? Todd Field propõe em Tár uma ficção que explora todas as fases de uma estrela em crise de imagem com Cate Blanchett no papel principal.

O longa foi indicado ao Oscar 2023 nas categorias de Montagem, Fotografia, Roteiro Original, Atriz, Direção e de Filme. Será que ele tem boas chances de levar alguma dessas estatuetas? Vamos discutir isso.

Ela é o momento

Lydia Tár (Cate Blanchett) é regente da Filarmônica de Berlim, uma das orquestras de maior renome no mundo. Além disso, a pianista e compositora detém o status de EGOT, ou seja, venceu prêmios no Emmy, Grammy, Oscar e Tony. Em resumo, a personagem é um dos maiores talentos musicais de sua geração.

A entrevista no início do filme atesta seu peso: uma referência de boa articulação, charme e repertório teórico. Em sala de aula, ainda mais afiada, sem filtros durante críticas aos alunos que desafiam sua visão intransigente. Logo fica claro que, para Lydia, não há concorrência. Nada poderia abalar seu Olimpo com uma carreira tão sólida.

E Blanchett abraça essa soberba como ninguém. Field mesmo afirmou que não via outra pessoa para o papel, e seu esforço para trazê-la rendeu uma das melhores interpretações do vasto trabalho da atriz que, assim como Lydia, está dentre as maiores dos últimos anos.

Imagem: Divulgação

Queda do trono

Quando uma ex-amiga comete suicídio, Lydia é envolvida em polêmicas envolvendo o tratamento que a condutora tem no ambiente profissional e a escala de tensão do longa cresce repentinamente. Tár surpreende porque o esperado seria uma abordagem mais simples, mostrando uma gradual evolução da condutora ao longo dos anos.

Ver justamente o contrário, sua queda diante da opinião pública enquanto mostra seus piores lados como pessoa, é instigante tanto pelo esforço dramático exigido de Blanchett quanto pela montagem que não cansa o público durante os 150 minutos.

Porém, também por essa razão o filme é decepcionante pois falta vermos mais do seu trabalho musical em ação, como condutora de uma grande orquestra em uma longa cena. Os momentos musicais servem mais para sugerir as intenções de Lydia com Olga (Sophie Kauer), sua nova obsessão, e para introduzir o conflito com sua esposa Sharon (Nina Hoss).

Imagem: Divulgação

Veredito

A estética fria e a estrutura rígida e eficiente do filme reiteram a objetividade da artista: metódica e sempre em busca do controle total. 

Chega a haver um distanciamento entre a protagonista e essa abordagem ríspida, porém condizente com sua conduta social. Field encontrou um tom interessante até a parte final, quando ocorre um salto temporal e espacial bem evidente.

A conclusão é de um humor agridoce que põe a cereja em um bolo fofo, sem os devaneios mais ousados que ele propõe em alguns momentos, mas nunca vai até o fim.

Tár pode não marcar por sua história, porém a imagem de Lydia como um símbolo de talento transpassa as câmeras enquanto Blanchett, em total controle de sua técnica, cada vez mais se firma como uma lenda.

Ponto Negativo

  • Falta de conexão/proximidade com a protagonista 

Pontos Positivos

  • Montagem que ilude a longa duração
  • Blanchett em uma de suas melhores performances 

Nota: 7,5