Lady Di foi uma das celebridades marcantes na década de 1990 pelo seu modo de vida mais afastado da realeza, da qual era parte.
Spencer, do diretor chileno Pablo Larraín, traz um olhar mais íntimo à personalidade dela, com Kristen Stewart na pele da Princesa de Gales. Veja a seguir se vale a pena conferir a obra.
Apenas 3 dias
Não vá ver Spencer esperando um filme biográfico estilo padrão – crescimento pessoal de anos da protagonista até chegar ao seu “ápice”.
Larraín opta por um escopo bem reduzido para retratar Diana (Kristen Stewart). Vemos somente 3 dias na vida da princesa, durante o Natal de 1991, na Inglaterra, com a família real.
Semelhante ao que fez em Jackie (2016), o diretor não está preocupado em mostrar a consolidação de uma personalidade, mas sim de explorar suas idiossincrasias em um período delicado de sua vida.
No caso, Spencer escancara as angústias da princesa diante de uma família na qual não se sente incluída, ainda mais em um casamento prestes a desmoronar – o divórcio com o príncipe Charles ocorreu em 1992.
Centro orbital
Larraín e sua equipe não estavam preocupados apenas em exibir uma Diana mais independente. Eles queriam engrandecer isso.
Tanto que o trabalho da fotografia no longa é sempre frisar em seu eixo de sustentação de uma maneira mais livre e ao mesmo tempo isolada do resto do mundo.
A câmera gira em várias cenas ao redor da princesa enquanto ela caminha sozinha em pátios e salões, ostentando aquela presença frente ao resto da família real.
Essa escolha nos aproxima da personagem e ao mesmo tempo deixa de lado o elenco de apoio. Claro, Stewart é a estrela, porém seus melhores momentos no filme são durante as conversas ou atritos com terceiros em que libera a ansiedade e as vontades profundas de Diana.
Estética em 1° lugar
Claire Mathon, fotógrafa do longa, explica em entrevista à Kodak a escolha pelo filme analógico em vez do digital. Isso contribui para uma estética menos limpa e intensa nas cores.
“A escolha pelo filme analógico ajudou a dar ao lado fabular da narrativa visual um sentimento um pouco assombrado, ao mesmo tempo em que adicionava uma suavidade à imagem que, ao meu gosto, contribui para a beleza e o mistério geral da personagem de Diana”, contou Claire.
Essa preocupação excessiva pela imagem é uma encruzilhada que a própria Diana enfrenta no longa.
Sempre atentos aos paparazzi e como os membros da família real devem se vestir em cada hora do dia, quase nada sobra a eles de vontade pessoal do que de fato eles desejam usar.
Da mesma forma, ao focar demais no visual de seu filme e como encaixá-lo ao redor de Diana, Larraín prejudica a liberdade da protagonista de se abrir aos outros, internalizando um conflito que explode do meio pro fim após uma crise da princesa.
Veredito
Não sou fã de nada referente a famílias reais e não faço questão de saber de suas fofocas históricas. Antes de ver Spencer, imaginei uma obra atrasada e sem sal, assim como a monarquia britânica.
De fato, o filme demora a engrenar em um ritmo satisfatório para entendermos melhor as apreensões e motivações de Diana durante o período retratado.
O aspecto visual quase compensa essa lentidão inicial e chega ao seu clímax estético e textual ao liberar Diana de suas obrigações reais, junto aos seus filhos. Stewart faz a melhor performance de sua conturbada carreira e chega forte para concorrer ao Oscar.
Pontos negativos
- Início pouco engajante
- Elenco de apoio mal aproveitado
Pontos positivos
- Uso do filme analógico acrescenta ao estilo misterioso da protagonista
- Performance acima da média de Kristen Stewart
NOTA: 6,5