Veredito de O Que Ficou Para Trás

17/11/2020 - POSTADO POR EM Filmes

Todos temos “fantasmas” do passado nos atormentando durante a caminhada de nossa vida. Podemos enfrentar alguns deles, quem sabe derrotá-los. Já outros, não. É preciso aprender a conviver com eles. E isso pode ser ainda mais difícil.

Em O Que Ficou Para Trás, longa de estreia do diretor britânico Remi Weekes, refletir sobre a luta contra essas entidades é o foco de uma história que trata da crise dos refugiados e da aceitação pessoal envolta num terror de ascensão gradual. O filme chegou à Netflix recentemente e você confere aqui o veredito.

Em busca de uma nova vida

O jovem casal Bol (Sope Dirisu) e Rial (Wunmi Mosaku) foge da guerra no Sudão do Sul para uma cidade na Inglaterra à procura de paz e chances para se estabelecer e crescer em novas terras.

O governo inglês os coloca em uma casa num conjunto habitacional e proíbe ambos de arranjarem emprego ou outra forma de renda além da irrisória quantia que será entregue a eles mensalmente. Uma maneira de segregar os refugiados de trabalho ou de vida social, que já forma a “panela de pressão” apresentada no longa.

Além dos vários problemas de estrutura da “nova” casa, o incômodo aumenta para Bol quando pequenas figuras começam a aparecer nas sombras e nas frestas da parede do local. O tormento, porém, não é, de início, motivo para alarde do jovem. Afinal, ele não pretende sair dali tão cedo, mas sim montar uma família e aprender a nova cultura o mais rápido possível.

Imagem: Divulgação

Nossa casa?

As presenças sobrenaturais já são o suficiente para construir o terror aqui, explorando o folclore sudanês de forma visualmente impactante. Mas Weekes vai além e sufoca os protagonistas pelo conflito interno entre aceitar o que impõem ao casal, através de detalhes como alimentação e vestimentas por parte de Bol, ou manter as raízes protegidas pelo amor dos dois.

O impacto do horror é alavancado pelo ótimo uso das sombras nos cômodos e da decupagem bem feita, organizando os limitados espaços para aproveitar o senso de prisão em que os protagonistas estão inseridos. 

O recurso do flashback é usado para introduzir um elemento essencial no ponto de virada próximo à conclusão, que traz um peso dramático necessário e que incita reflexão acerca dos absurdos vividos em contextos de guerra para sobreviver. Um forte baque e, de fato, um fantasma impossível de ignorar.

Imagem: Divulgação

Veredito

Jordan Peele deve estar surpreso pelo trabalho de estreia de Weekes. Em O Que Ficou Para Trás, o aguçado roteiro de Felicity Evans, Toby Venables e do diretor apresenta uma realidade pouco vista na Europa com o fluxo de refugiados, principalmente da África, em um clima de terror espiritual/psicológico eficiente.

Os 90 minutos da obra são poucos para uma história que poderia crescer ainda mais em seu começo, na adaptação do casal na Inglaterra, e nos flashbacks na terra natal, construindo uma tensão mais completa e dando maior tempo de tela para Dirisu e Mosaku, com atuações de destaque.

Encontrar paz em ambientes de conflito é um desafio. Mas conviver com os traumas causados pelos anos de medo após seu fim é ainda mais complicado. O Que Ficou Para Trás mostra o processo de luta contra a culpa dos atormentados, do conhecimento de seus “fantasmas” e do caminho para aceitá-los ao seu lado. Às vezes, esses “fantasmas” não querem nos arrastar para baixo. É o medo de encará-los que nos tira a liberdade.

Pontos negativos

  • Pouco tempo para explorar melhor os conflitos principais

Pontos positivos

  • Falta de apelação a jumpscares para construir o terror

Nota: 7,5