Um menu completo de restaurante se assemelha a um filme. Tem 1º, 2º e 3º ato (entrada, prato principal e sobremesa) normalmente, precisa que o consumidor/espectador invista tempo e atenção na obra e, no final das contas, é arte.
O Menu une as linhas gastronômicas e cinematográficas em uma experiência cheia de sabores e nuances que não agrada a todos os paladares, mas que deixa um retrogosto marcante.
O longa chegou ao catálogo do Star+ este mês e você confere aqui nosso comentário sobre o filme.
Bon appétit
Tyler (Nicholas Hoult) convida Margot (Anya Taylor-Joy) para um refinado e exclusivo jantar preparado pelo chef Slowik (Ralph Fiennes).
Junto a um grupo de figurões da TV, do mercado financeiro e da crítica gastronômica, o “casal” acompanha o meticuloso processo de criação do menu servido.
O longa escrito por Seth Reiss e por Will Tracy, e dirigido por Mark Mylod, impõe um senso controlador para a história. Desde a constante presença do chef e da assistente (Hong Chau) em planos over the shoulder ao calmo porém firme tom em seus discursos.
Não há espaço para desordem ou reclamações no início. A disciplina no mise en place da cozinha é agregada também pela montagem seca e pela mise en scène limpa.
A mosca na sopa
Esse padrão de equilíbrio começa a fugir da forma desejada quando a revelação da “intrusão” da personagem de Margot é feita.
Seu nome não estava na lista de convidados e ela não se compromete a saborear os pratos, muito menos comê-los. Uma decepção para o chef, que se preocupa pelo ponto fora da curva em seu plano.
O Menu perde o seu agradável ritmo quando parte para uma abordagem mais espetacularizada. A proposta de transpor as refeições para um nível sensorial além do imaginado destoa do controle primordial ao mesmo tempo que procura o manter.
O incômodo causado pelas atitudes de Margot contra o chef é de uma esfera mais pessoal aos personagens, ambos com um passado marginalizado e que brigam por um controle maior de suas vidas.
Esse sutil comentário social fica escanteado diante do desespero instaurado em cena. Pouco se aproveita disso, visto que o último prato será logo servido.
Veredito
O Menu almeja se mostrar mais esperto do que é e larga sua proposta dominante na reta final de maneira questionável.
O clima de alerta constante e a qualidade em comédia do elenco de apoio garante a diversão enquanto critica a própria indústria da arte.
Até que ponto a criatividade de artistas é limitada por um algoritmo consumista de venda fácil? E na linha oposta a esse pensamento, por que comer um prato conceitual e bonito se ele não encher a barriga?
No fim do filme, fica a moral da história: a única comida boa feita por estadunidenses é cheeseburger.
Pontos negativos:
- Comentário social superficial
Pontos positivos:
- Início engajante
- Manutenção do clima de tensão
NOTA: 7,5