Veredito de Malcolm & Marie

10/02/2021 - POSTADO POR EM Filmes

Autenticidade é um elemento de difícil presença em qualquer obra artística pois, assim como tudo em nossas vidas, recebe influência de experiências passadas pessoais ou de terceiros para compor uma forma atualizada do que queremos expressar.

Referenciar esses passados não é sinal de fraqueza intelectual ou de preguiça. É a constatação de uma nova abordagem com um olhar diferenciado de outras obras. No fundo, essa é a discussão de Malcolm & Marie, escrito e dirigido por Sam Levinson (Euphoria), novo longa da Netflix

Gravado em apenas seis meses em um único local durante a pandemia, o filme tem gerado reações mistas na comunidade cinéfila. Confira o que achamos!

Toma teu biscoito

Malcolm (John David Washington) é um jovem diretor que acaba de sair da estreia de seu novo filme, bem recebido pela crítica, e comemora o sucesso com sua namorada Marie (Zendaya) quando chegam em casa na madrugada. O clima passa de amistoso para preocupante em minutos, enquanto o rapaz explode de orgulho e de eletricidade por sua obra, em contraste com a indiferença de sua parceria. A queda de braço tem início.

Indireta de um lado e ironias do outro, as feridas abertas do casal são não apenas expostas, mas mergulhadas em álcool ao ponto de afogar tanto os protagonistas quanto a audiência em uma torrente de mágoas internalizadas. 

Ao imaginar um resto de noite para vangloriar ainda mais seu sucesso, Malcolm encara uma luta contra a construção de sua carreira como cineasta, o egoísmo em preferência ao trabalho e a autenticidade das inspirações para o tal filme. Enquanto isso, Marie é alvejada como suposto peso na vida do parceiro e enfrenta o remorso pela falta de oportunidades como atriz e as cicatrizes de uma juventude obscura.

Imagem: Divulgação

Se a carapuça servir…

Filmado em preto e branco para criar um ar mais abstrato durante as longas sequências que exploram a profundidade da casa, o visual de Malcolm & Marie força o espectador a grudar os olhos nas performances de Washington e de Zendaya e absorver os potentes monólogos de um casal em uma crise que cresce de forma descontrolada.

Enquanto o filme se atém a essa encruzilhada, repete uma fórmula já vista recentemente em História de um Casamento, funcional e engajante. Porém, quando Levinson desvia o discurso de Malcolm para cutucar os críticos de cinema, parece olhar somente para o próprio umbigo.

A autoindulgência passou do ponto, esbanjando gratuitamente ataques em reação a uma mágoa do público que ainda nem veio de fato. Exige em seu texto uma entrega de emoção para conectar os personagens aos espectadores, mas não a executa, se perdendo na metalinguagem

Falta humildade em admitir erros e peca pelo exagero ao deslocar o longa em direção a um tema desnecessário e que virou a principal armadilha para o diretor. A autenticidade passou longe e a prepotência bateu à porta.

Imagem: Divulgação

Veredito

Apesar da derrapada que torna Malcolm & Marie enfadonho a partir da metade, o filme aproveita o que os atores têm de melhor para pesar o ambiente na constante queda de braço. Quando um parece cansar, o outro empurra mais até a exaustão ser mútua.

Essa dinâmica funciona bem quando o foco é a relação tóxica de ambos. Lavar roupa suja é necessário em qualquer relacionamento, amoroso ou não. O interessante da história está aí, não na tentativa de agradar um nicho minúsculo de uma teórica inquisição da indústria cinematográfica.

Pontos negativos

  • Desvio de foco que torna metade do filme cansativo

Pontos positivos

  • John David Washington e Zendaya com ótima dinâmica

NOTA: 7