Veredito de Mães Paralelas

22/02/2022 - POSTADO POR EM Filmes

O cineasta Pedro Almodóvar, que recentemente teve vários de seus filmes chegando à Netflix, agora estreia seu novo longa Mães Paralelas, já disponível no streaming e nos cinemas. O filme garantiu duas indicações para o Oscar 2022, de Melhor Atriz para Penélope Cruz e também de Melhor Trilha Sonora.

Além de trazer uma história tocante sobre maternidade e ancestralidade, o diretor ainda consegue trazer um contexto político bastante pertinente no filme. Confira tudo o que achamos de Mães Paralelas neste veredito.

Maternidade compartilhada

Na Espanha dos tempos atuais, duas mulheres, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), dividem um quarto no hospital onde darão à luz. Bastante diferentes uma da outra, as duas só compartilham entre si a experiência de serem mães solteiras de primeira viagem.

Janis é uma fotógrafa de meia-idade, que sempre teve o desejo de ser mãe e, por conta de um romance inesperado, agora pode realizá-lo, já Ana é uma adolescente com uma péssima relação com seus pais e enxerga a maternidade de forma assustadora.

Em um processo de ajuda mútua, ambas as mulheres acabam ligadas depois de compartilharem as alegrias e penúrias do parto. O que elas não entendem ainda é que esse acontecimento mudará suas vidas para sempre.

Imagem: Divulgação

Ligação com o passado

Enquanto os dramas com a maternidade se desenrolam na vida de Ana e Janis, esta segunda ainda tem mais uma preocupação. Marcada por um passado envolvendo a Guerra Civil espanhola, a fotógrafa teve seus familiares diretamente afetados e hoje busca por justiça pelos corpos desovados de seu bisavô e de outros prisioneiros. 

O cenário político disputa o protagonismo com a trama conflituosa de ambas as mães, dando mais peso para a discussão sobre ancestralidade que é pontuada por Janis. Afinal, ela está segurando nos braços a perpetuação de sua família e mais uma pessoa que deve conhecer sobre esse passado de violência.

Por outro lado, a padronagem de Ana se mostra alheia a esses conflitos, ignorando qualquer que tenha sido a participação de seus ancestrais durante a guerra. Isso pode ser retratado para criticar uma certa posição negacionista, mas teria sido benéfico ver o tema mais discutido em tela.

Imagem: Divulgação

Construindo a tensão

Mães Paralelas traz ainda um excelente clima de tensão, construindo o conflito aos poucos, a partir de descobertas feitas pelas personagens. As informações parecem estar sempre na ponta da língua, prestes a explodir.

Talvez a única parte que incremente o peso do conflito, mas ainda assim parece ser desnecessária para o andamento da história, é o relacionamento que nasce entre Janis e Ana. Uma característica que faz o filme pender para o melodrama, mas que, se retirado, não faria realmente diferença na história. 

De qualquer maneira, é excelente presenciar o crescimento de ambas as personagens, que possuem conflitos próprios e questões que vão sendo desenvolvidas no desenrolar da trama.

Imagem: Divulgação

Veredito

Mesmo com alguns tropeços no roteiro, como o apelo ao melodrama, Mães Paralelas nunca consegue que você desvie a atenção do filme. O pano de fundo histórico, o desenvolvimento de maternidades semelhantes e diferentes, além do conflito que se estabelece, acabam se entrelaçando de forma quase perfeita

As atuações estão impecáveis, com destaque especial para Penélope Cruz, que traz uma personagem cheia de camadas, na qual entendemos as suas atitudes ao mesmo tempo em que não podemos deixar de condená-la por elas. Com certeza é um dilema que merece a atenção do espectador, e vai fazer com que reflita sobre ele por muito tempo. 

Pontos positivos

  • Ótimo roteiro
  • Conflitos bem estabelecidos
  • Bom clima de tensão

Pontos negativos

  • Mais aprofundamento no tema político
  • Relacionamento desnecessário entre as protagonistas

Nota: 9