Veredito de Asteroid City

16/08/2023 - POSTADO POR EM Filmes

Wes Anderson parece estar reinventando sua forma de contar histórias. Em Asteroid City, seu 11º longa-metragem, o diretor encaixa narrativas diferentes em formatos distintos, como uma matrioska de pinturas e gêneros distintos.

O filme estreou nos cinemas brasileiros na última semana, contando, mais uma vez, com um elenco recheado de grandes nomes da indústria cinematográfica norte-americana. Refletimos sobre os temas da obra e trazemos o nosso veredito a seguir.

Simulando uma peça

“Eu nunca fiz parte de uma peça. Mas quando vou ao teatro, gostaria de fazer parte de uma companhia como essa. E quando estou fazendo um filme, é bem assim. Alguns dos meus atores que fizeram peças me disseram isso… mas para mim, este filme, é sobre por que as pessoas fazem teatro. Por que sinto essa atração misteriosa e mística pelos bastidores? O que há em fazer um show e se apresentar?”, contou o cineasta em entrevista ao Independent.

Asteroid City é, em essência, uma peça de teatro comentada como um documentário, em forma de ficção. Confuso? Sim, porém, metalinguístico seria o adjetivo mais apropriado.

A obra acompanha grupos de jovens gênios reunidos para uma convenção científica em uma isolada cidade dos EUA na década de 1950. Uma breve visita extraterrestre estremece o evento, levando a questionamentos interpessoais das famílias ali em quarentena.

Imagem: Divulgação

Alternância estética

Para a parte ficcional, Anderson escolheu sua clássica paleta colorida com tons pastéis e uma proporção de tela de 2.39, padrão para vários longas que exploram os elementos nas laterais da tela, normalmente em 2º plano.

Já para as cenas documentais, a proporção usada é mais restrita: em 1.37, há menos espaço para no quadro, focando praticamente em apenas um plano ou personagem. Essa escolha, aliada ao filtro em preto e branco, influencia no modo como o público absorve as questões expostas nas sequências mais intimistas. Os conflitos dos atores/protagonistas perdem o tom fantasioso típico das obras de Anderson, assumindo uma estética seca, mas que amplia a empatia com os artistas fora da cena.

Essas constantes mudanças técnicas podem quebrar o ritmo de quem está mais interessado na narrativa ficcional. O diretor cria uma bagunça (com boas intenções) que incita em quem consome a obra reflexões quanto aos métodos de atores e de roteiristas para transpor suas ideias em cena – seja no teatro ou na telona.

Imagem: Divulgação

Veredito

Em seu último filme, A Crônica Francesa, Anderson já havia deixado sua proposta mais direta de apresentar a história, dividindo a obra em três partes que não se conectam. Ele desconstruiu o formato tradicional novamente, agora de outra maneira, em Asteroid City.

Scarlett Johansson e Jason Schwartzman aproveitam a intertextualidade para jogar com seus duplos personagens, abrindo margens entre atuações para a peça e para o próprio documentário. 

Essa liberdade permitiu que suas qualidades quebrassem a firme idiossincrasia dos longas de Anderson, em que os personagens pouco saem da curva alinhada à fotografia milimétrica de Robert D. Yeoman.

Imagem: Divulgação

Embora não tenha o charme visual de Grande Hotel Budapeste ou uma história tão engajante como Os Excêntricos Tenenbaums, o filme ainda aborda o luto e conexão com a família com uma sensibilidade marcante.

Wes Anderson dá sinais de uma fase da carreira em que seus próprios métodos são testados, brincando com referências de autores importantes para sua formação, como Wim Wenders (Paris, Texas é uma clara influência espacial aqui).

Sua próxima obra, A Maravilhosa História de Henry Sugar, é um média-metragem que será lançado na Netflix ainda em 2023. Fica a expectativa de que o diretor continue a explorar seus ideais cinematográficos, trazendo reflexões relevantes para o streaming.

Pontos negativos

  • Confusão e quebra de ritmo durante alternância entre narrativas

Pontos positivos

  • Explorações na idiossincrasia de Anderson

Nota: 7