Veredito de Anora

Sticky23/01/2025 - POSTADO POR EM Filmes

Vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2024, Anora acaba de chegar aos cinemas brasileiros com um enredo peculiar e surpreendente. Conferimos o longa e compartilhamos aqui nossas impressões. 

Enredo

Anora (Mikey Madison), ou Ani, como prefere ser chamada, é uma jovem de 23 anos que trabalha como dançarina exótica em um clube noturno de Nova Iorque. Em uma noite que parecia comum, ela conhece Ivan (Mark Eidelshtein), o herdeiro de uma família milionária russa.

O envolvimento entre os dois acontece rapidamente. Ele a presenteia com luxo e conforto, enquanto ela atende seus desejos sexuais. O fascínio mútuo leva a um casamento impulsivo em Las Vegas, mas a união não agrada à família de Ivan. Determinados a encerrar a “brincadeira”, seus pais enviam uma equipe para intervir.

Imagem: Divulgação

Nem tão conto de fadas assim…

A princípio o filme parece mais um conto de fadas moderno que já foi contado milhões de vezes e chega até lembrar Uma Linda Mulher (1991), porém isso fica apenas nos primeiros minutos e tudo muda depois. O roteiro subverte expectativas ao empoderar Ani de todas as formas possíveis, demonstrando que a cada dificuldade que ela passou na vida a tornou mais forte e esperta, pronta para as adversidades

A personagem, em diversos momentos, demonstra que construiu uma carapaça tão impenetrável, que praticamente nada a permite deixar vulnerável. Ainda assim, por mais que seja forte, Ani não é imune ao deslumbramento pelo conforto que Ivan proporciona, confundindo luxo com amor.

Aqui está a maior genialidade do enredo: questionar como mesmo a pessoa mais resistente pode ceder diante de pequenos gestos de cuidado. Mas não se engane, apesar disso em nenhum momento a narrativa vai por um caminho maniqueísta, se propondo a dizer que sua protagonista precisa ser salva da vida que leva. 

Imagem: Divulgação

Quem é Sean Barker?

Nascido em 1971 nos Estados Unidos, Sean Barker é um cineasta que se destaca atualmente no cenário dos filmes independentes. Os seus longas costumam trazer a história de pessoas excluídas da sociedade e trabalhadores sexuais.

Ousado, Sean em 2015 lançou Tangerine, um longa filmado inteiro com iPhone e que o elenco era praticamente todo de pessoas trans. Dois anos depois, dirigiu Projeto Flórida, aclamado pela crítica por sua abordagem sensível da infância em situação de vulnerabilidade.

O cinema de Sean possuo um olhar sensível, sem “coitadismos” ou finais perfeitos, ele toca em questões que não estão muito na superfície quando o assunto são os “excluídos” da sociedade. O cineasta mostra um lado humano pouco falado por Hollywood nas suas produções.

Imagem: Divulgação

Veredito 

Com um roteiro envolvente e reviravoltas inesperadas, Anora mantém o espectador imerso durante suas 2h19min sem que o tempo seja um incômodo. O humor é bem dosado, combinando ideias absurdas com cenas sensuais que, surpreendentemente, não objetificam a protagonista. 

A cinematografia e direção acertam ao usar a escuridão em momentos estratégicos, evitando expor mais do que o necessário nas cenas explícitas e mantendo a sutileza da narrativa.

O elenco da produção está excelente. Mikey Madison é um destaque no filme, conseguindo dar à jovem Ani uma força e ingenuidade ao mesmo tempo. Os personagens coadjuvantes são muito cativantes e até por mais misteriosos que pareçam, eles chamam atenção. No entanto, Mark Eidelshtein, que interpreta Ivan, tem uma performance menos marcante em comparação aos demais.

O único ponto que deixa a desejar é a falta de clareza sobre a origem da fortuna da família de Ivan — se trata-se de riqueza tradicional ou de algo relacionado à crime organizando.

Pontos positivos:

  • Elenco
  • Direção
  • Plot
  • Roteiro

Pontos negativos:

  • Clareza narrativa sobre Ivan

NOTA: 9,5/10