Veredito de A Mulher na Janela

22/05/2021 - POSTADO POR EM Filmes

Da Fox para a Disney, da Disney para a Netflix. A trajetória de A Mulher na Janela, originalmente previsto para estrear em 2018, até chegar ao streaming foi de muitas trocas de produção e pouca identidade em um thriller que vem chamando a atenção do público.

Confira nosso veredito sobre o novo filme de Joe Wright (diretor responsável por Orgulho e Preconceito, de 2005, e Desejo e Reparação, de 2007) aqui!

Alô, Hitchcock?

Uma psicóloga adquire fobia de sair de casa e, de sua janela, assiste um assassinato na residência vizinha. Em dúvida sobre o culpado e o contexto do ocorrido, a protagonista se sente pressionada a intervir apesar de sua situação delicada.

Tocou um sino na memória? Sim, a história – e a abordagem visual – se assemelha à Janela Indiscreta (1954), uma das obras mais renomadas do diretor Alfred Hitchcock, ao pairar de longe entre as janelas dos vizinhos, observando suas particularidades diárias.

Adaptado do livro de A.J. Finn, o filme de Wright foge do protagonista voyeur de Hitchcock e foca em Anna Fox (Amy Adams) como uma espécie de detetive do crime, pressionada pelo marido (Gary Oldman) da vítima (Julianne Moore) e pai de Ethan (Fred Hechinger), jovem com problemas sociais ainda incertos.

A contextualização aqui ocorre basicamente através do diálogo entre Anna e seus vizinhos ao invés da exposição de Janela Indiscreta. Porém, a troca da produção do filme o fez girar a chave de um até então suspense mediano para uma mescla de drama/terror desorganizado, criando um clima no mínimo esquisito a partir da segunda metade.

Imagem: Divulgação

Mete a tesoura

É difícil adivinhar as partes alteradas nas refilmagens do longa e como seria a estrutura original de Wright, mas é visível a instabilidade da abordagem formal de certas cenas de A Mulher na Janela

De um vívido sangue vermelho na nossa tela à lá Suspiria para uma iluminação quase teatral em um insight de Anna até uma alucinação kaufmaniana no apartamento, a obra parece nunca se satisfazer com um estilo durante os 100 minutos. Os rápidos saltos entre métodos e padrões típicos de gêneros cinematográficos não se encaixam em uma unidade que impacte de fato o espectador.

Os twists com relação ao passado de Anna e sobre a identidade do assassino são previsíveis e pior, rebolados à protagonista de forma tão ligeira e pouco trabalhada que não há tempo para absorver toda a cena como deveríamos. 

A impressão é de que cortaram minutos de exposição acerca da protagonista a fim de aproximar a conclusão o quanto antes. Porém, o desfecho muda ainda mais o tom já amargo do longa para uma ação desnecessária e anticlimática

Imagem: Divulgação

Veredito

A Mulher na Janela acaba como um desperdício de uma história tão bem trabalhada visualmente através do manejo de câmera pelo enorme apartamento e do talento de Amy Adams. A tensão, bem construída no início, se volta para uma confusão estilística que quebra o ritmo da narrativa sem justificativa nenhuma.

A proposta repetida não é sinônimo de qualidade ruim automática, mas a maneira como os clichês são trabalhados é que tornam um filme pretensioso em apenas outro exemplo de “prometeu e não cumpriu“.

Pontos positivos

  • Controle de câmera no estilo voyeur;
  • Suspense mediano na primeira parte.

Pontos negativos

  • Indecisão estilística e narrativa a partir da metade;
  • Desfecho apressado e sem impacto.

Nota: 5,0