Veredito de A Morte Do Demônio: Ascenção

14/04/2023 - POSTADO POR EM Filmes

A franquia de terror Evil Dead está de volta aos cinemas 10 anos após o remake dirigido por Fede Alvarez. A Morte do Demônio: A Ascensão busca trazer uma nova saga para os demônios parasitas que aterrorizam as telonas desde Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (1981).

Com o criador da marca Sam Raimi no cargo de produtor executivo junto com o ator Bruce Campbell (que interpretou o protagonista Ash Williams nos três primeiros filmes), o encarregado de dirigir e escrever o novo longa foi Lee Cronin, cuja estreia no terror com O Bosque Maldito (2019) surpreendeu a crítica. Mas será que o novo capítulo da franquia Evil Dead é tão diabólico quanto os antecessores? Confira no veredito a seguir.

“Deixe entrar”

A técnica de som Beth (Lily Sullivan) descobre que está grávida e vai até a casa da irmã tatuadora Ellie (Alyssa Sutherland) em busca de suporte emocional. Chegando lá, ela revê os três sobrinhos adolescentes: Brigdet (Gabrielle Echols), Danny (Morgan Davies) e a caçula Kassie (Nell Fisher).

Um estranho terremoto abre uma fenda no chão do estacionamento do prédio onde a família vive. Desconsiderando os avisos de Bridget, Danny entra em um cofre secreto localizado no subsolo e rouba documentos antigos, além de um livro antigo feito de couro. A partir daí, forças sobrenaturais interferem violentamente na madrugada de todos.

Imagem: Divulgação

Um livro aberto

Pela sinopse, já se percebe que A Ascensão segue o mesmo caminho de Uma Noite Alucinante 1 e 2 e o remake de 2013. Todos os elementos de horror e suspense já trabalhados por Raimi e Alvarez estão presentes aqui: a câmera que circula pelos ambientes, o Livro dos Mortos sendo aberto por curiosos desavisados, o horror claustrofóbico tomando conta da casa, as mesmas formas de descobrir os segredos dos demônios e muito, mas muito sangue jorrando de todos os lugares (e orifícios) possíveis.

Até a escopeta e motosserra, usadas desde o primeiro longa, dão as caras aqui. Porém, tais ferramentas estão no filme da mesma forma que o facão está para o Jason e a luva com garras está para o Freddy Krueger. Ou seja, são parte da identidade da franquia e não apenas fan services.

Mas nem tudo é cópia, pois Cronin tem seus momentos de autoralidade dentro do longa. A começar por não eliminar totalmente o humor ácido, que também é outra marca registrada de Evil Dead completamente apagada no remake de 2013. O que o diretor faz é dosar esses momentos para que surjam de maneira mais pontual, sem deixar de lado a seriedade e a tensão.

Imagem: Divulgação

Outro ponto é a ambientação. Diferente de uma cabana no meio do nada, um prédio condenado também é capaz de dar a mesma sensação de desamparo e angústia quando se está preso nas mãos de parasitas demoníacos – ainda que tenha a ajuda dos vizinhos.

Diferente de sua obra anterior, que foi um suspense sobrenatural mais sugestivo, Cronin mostra em A Ascensão uma monstruosidade mais direta e com “sangue nos olhos”. O seu tempo de tela, cerca de 90 minutos, facilita na concentração dos elementos mais prioritários e faz com que a obra não tenha muitas “gordurinhas” que possam desencaminhar o andamento da tensão e conhecimentos sobre os protagonistas.

Essa pegada mais certeira facilita também na construção do desfecho da obra. Sem dar spoilers do filme, o que temos no final de A Ascensão é muito mais bem construído e empolgante do que o final do remake A Morte do Demônio, onde Fede Alvarez se estendeu além da conta com um terceiro ato um tanto confuso.

Medo em família

Como roteirista, Cronin não parece muito preocupado em desenvolver personagens no decorrer da trama para que o público possa se identificar com eles e torcer pela sua sobrevivência. Aqui, nem sentimos falta dessa abordagem. Ainda que alguns problemas de família apareçam no começo da trama, rapidamente eles são esquecidos.

Sabemos apenas o suficiente sobre cada um dos moradores da casa. Ellie é uma mãe recém-separada e que se vira como pode para sustentar os três filhos. Sua irmã Beth, que diz ser técnica de som de uma banda de rock, aparentemente é uma groupie – aquelas fãs que “se envolvem demais” com seus ídolos. Danny é um proto-DJ que banca o curioso inconsequente. Bridget é uma paródia de progressista que age como militante. E Kassie é divertidamente estranha e fofa.

Apresentados seus poucos problemas ao público, o filme vai ao que importa. E isso contribuiu para não nos sentirmos apegados a cada um deles, pois o que Evil Dead ensina é que, após a noite alucinante, a ressaca de manhã é ainda mais infernal. Só o que nos interessa é ver quem tem mais garra e fibra espiritual para se manter vivo e despossuído no dia seguinte. E o novo filme cria essa jornada de sobrevivência de forma muito eficiente.

Imagem: Divulgação

Veredito

A Morte do Demônio: A Ascensão não busca reinventar a roda, mas sim atualizar elementos já explorados em filmes anteriores em uma filmografia pragmática e ainda impactante. Toda a tensão, claustrofobia, profanação e sujeira já mostradas em obras anteriores podem ser palatáveis a uma nova geração de amantes do terror com a direção certeira de Cronin.

É óbvio que o resgate da memória de Evil Dead tem a intenção de gerar novas sequências. Ainda que o novo filme seja um trabalho redondinho e acima da média, o fato de ainda se apoiar em recursos já vistos antes pelos fãs deixa a dúvida: o que vimos em 90 minutos de longa é uma ascensão conceitual ou meramente comercial da franquia?

Pontos positivos

  • Direção certeira de Lee Cronin
  • Maior objetividade na construção da ação
  • Ambientação angustiante

Pontos negativos

  • Poucas inovações na história
  • Parco desenvolvimento de personagens que pode desagradar espectadores mais curiosos

Nota: 7.5