Veredito de A Lenda de Candyman

26/08/2021 - POSTADO POR EM Filmes

Os fãs disseram seu nome 5 vezes, e o homem do gancho atendeu o chamado. Chega aos cinemas A Lenda de Candyman, novo capítulo da franquia de terror pioneira ao mesclar slasher e questões raciais. A nova produção, adiada desde 2020 por conta da pandemia, tem como diretora Nia DaCosta (The Marvels) e produção de Jordan Peele (Corra e Nós).

O quarto filme da saga chega num momento favorável para filmes de terror social, tendo como exemplo a ótima aceitação de Lovecraft Country e O Que Ficou para Trás. Valeu a pena clamar 5 vezes no espelho por um novo filme? É o que veremos a seguir.

5 vezes Candyman

Junto com a sua namorada Brianna Cartwright (Teyona Parris), o artista visual Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II) muda-se para o bairro Cabrini Green, Chicago, para buscar novas ideias para suas obras. 

Instigado por uma história contada pelo irmão de Brianna, Troy (Nathan Stewart-Jarrett), McCoy fica interessado na lenda de Candyman, uma entidade assassina conhecida no bairro.

Segundo a lenda, basta evocar 5 vezes o nome de Candyman na frente de um espelho para que ele apareça. Ignorando a superstição, McCoy populariza a lenda através da arte, o que causa um ciclo de mortes misteriosas.

Foto: Divulgação

Bairro de sangue e mel

A Lenda de Candyman chega em um momento do cinema onde pautas raciais são discutidas em filmes de terror. Tanto o primeiro filme, O Mistério de Candyman (1992), como a obra que o inspirou (a novela “The Forbidden”, publicada em 1985 por Clive Baker), foram pioneiros nessa abordagem. Logo, nada mais justo que uma continuação sob o olhar de uma nova geração do horror que potencializa esse método.

As denúncias da direção e produção abordam a gentrificação em bairros periféricos dos Estados Unidos, ocasionando uma desigualdade urbana. Vemos que o bairro de Cabrini Green ainda é o mesmo palco para estas discussões, semelhante à novela e ao primeiro filme. 

Nas primeiras obras, as divergências socioculturais causadas pela separação espacial entre novos moradores ricos e antigos moradores pobres eram antes um conflito silencioso. Nas mãos de DaCosta e Peele, a problemática é mais esclarecedora, sendo o combustível que conduz a tensão social vista no filme.

McCoy, mesmo sendo um jovem negro de origem periférica, busca uma ascensão social e econômica que o distancia demais dos problemas que ele deseja retratar em arte. Há uma motivação semelhante ao da personagem Helen Lyle (Virginia Madsen), protagonista do primeiro filme. 

Tanto Helen como McCoy utilizam a lenda de Candyman como uma forma de alavancar suas carreiras em cima de uma história letal para Cabrini Green, agindo de forma cética e sem pensar nas consequências dessa exploração.

Foto: Divulgação

Doces para “Os Doces”

A inovação neste novo filme é a ampliação do que é Candyman, visto antes sendo apenas o espírito vingativo do pintor Daniel Robitaille (Tony Todd). Outras pessoas, vítimas de injustiças provocadas pelo racismo, ocupam o cargo de Candyman, de forma sucessiva e coletiva. Mesmo com essa mudança de perspectiva sobre o vilão, A Lenda de Candyman ainda segue conectado aos eventos do primeiro filme e do conto literário de Clive Barker.

Três atores da primeira adaptação continuam na franquia, em participações pontuais e conectivas. Do novo elenco, o casal interpretado por Abdul-Mateen e Teyona Parris é o maior destaque. A atuação dos dois passa a credibilidade da angústia, tormento e loucura causados pelo ressurgimento de Candyman.

No quesito violência, as mortes são rápidas e sem muito espaço para fugas angustiantes. Há uma preocupação do roteiro em criar um clima de tensão nas aparições de Candyman, utilizando-se de espelhos e abelhas para dar o tom sugestivo ao ambiente, isso sem contar a trilha sonora alinhada com os momentos de terror iminente.

A movimentação de câmera não foca de maneira explícita muitas das mortes, preferindo explorar tomadas distantes, reflexos de espelho e visões de personagens. Para esta escolha, precisaria também de maior clímax entre vítima e assassino, principalmente nos momentos finais do longa, onde essa precisão desidrata toda a tensão que poderia ser mais apoteótica.

A precisão nos detalhes também está nos momentos de flashback. Um teatro das sombras é utilizado para ilustrar certos momentos da história a respeito de Candyman. Mesmo criativo, a direção pecou em não inserir no decorrer da trama flashbacks dos créditos finais, desperdiçando uma chance de maior explicação sobre o antagonista no filme.

Veredito

Sendo um autêntico slasher sobrenatural moderno, A Lenda de Candyman consegue ser um bom representante da nova safra de filmes de horror social onde o racismo é o maior vilão. 

O olhar apurado de Nia DaCosta faz com que os temas da desigualdade sejam autênticos. O desempenho dos atores protagonistas está na medida certa de drama significativo a essa história. Sabe prender a atenção do público em seus instantes mais sugestivos de tensão, dentro do que o roteiro oferece. 

Depois de impactar na primeira metade, vemos que a força do filme vai enfraquecendo à medida que não incorpora mais elementos narrativos que poderiam oferecer um desfecho mais apoteótico, com mais clímax, e não um resultado ambíguo e reduzido de emoção. Ou seja, um açúcar a mais para não deixar um sabor agridoce à lenda de Candyman.

Foto: Divulgação

Pontos Positivos

  • Atuação convincente de Yahya Abdul-Mateen II e Teyona Parris
  • Autenticidade ao expor as questões sociais do filme
  • Terror sugestivo bem unificado ao slasher.
  • Trilha sonora instigante
  • Boa conexão com o primeiro filme

Pontos Negativos

  • Insuficiência de material relevante para o desfecho do filme
  • Utilização de flashbacks explicativos em um momento desnecessário do filme

Nota: 7.0