Studio Ghibli: Guia de filmes na Netflix

06/05/2020 - POSTADO POR EM Filmes

Chegaram na Netflix os tão esperados filmes do Studio Ghibli! Os fãs aguardavam ansiosamente este momento para conferir todos os títulos e a magia do estúdio japonês que consegue encantar espectadores de todas as idades. 

Antes de mais nada, é preciso lembrar que “Túmulo dos Vagalumes” (1988) não está disponível no catálogo do streaming, mesmo sendo um dos melhores filmes do estúdio. Tenha em mente também que o ritmo dos longas e a narrativa são bem diferentes do que estamos acostumados. Existe um grande simbolismo dentro de cada título e diversas metáforas nas entrelinhas do roteiro – além de muita criatividade. 

Os filmes dessa lista estão organizados por ordem cronológica. Recomendo que, se você não assistiu nenhum ou só viu alguns, siga a ordem de lançamento para comparar a evolução do estúdio. Vale muito a pena.

Nausicaä Do Vale Do Vento (1984)

“Nausicaä Do Vale do Vento” faz parte do catálogo Ghibli, mas ele foi produzido antes da fundação oficial do estúdio. Fruto da parceria icônica entre Hayao Miyazaki na direção e Isao Takahata na produção, posteriormente o longa foi adicionado à coleção por ter inúmeras características semelhantes aos filmes produzido por Miyazaki e Takahata. 

Na trama, Nausicaä é uma princesa do pequeno reino do Vale do Vento. Ela estuda os impactos de um mundo pós-apocalíptico, mil anos após o acontecimento chamado de “colapso da civilização pós-industrial”, que transformou as florestas em lugares altamente tóxicos, impossíveis de se manter a vida humana sem equipamentos de proteção. 

O filme é inspirado em um mangá homônimo de Miyazaki publicado em 1982. Aqui podemos facilmente classificá-lo como uma distopia. O longa ainda tem um pezinho na cultura grega, já que Nausikaa, a princesa que ajudou Ulisses na Odisséia, é uma clara inspiração para a protagonista.

O Castelo No Céu (1986)

“O Castelo no Céu” é o filme oficial de estreia do Studio Ghibli, sendo o terceiro no currículo de Hayao Miyazaki – não é à toa que o chamam de gênio. O longa animado apresenta um visual belíssimo, tendo um roteiro bem amarradinho e lapidado; é como se ele houvesse aprendido com os erros e soube exatamente como corrigi-los.

Sheeta e Pazu são duas crianças que estão em busca de uma antiga civilização chamada Labuta, que, segundo a lenda, costumava sobrevoar os céus. Em um determinando momento, os dois passam a ser perseguidos por militares gananciosos que queriam encontrar o ouro do lugar.

Talvez esse seja o filme do Studio Ghibli com a trilha sonora mais rica e interessante: são 14 músicas, sendo uma delas com a letra de Miyazaki. O longa tem uma paleta de cores que ajudam a dar o tom para a estética chamada de steampunk. O título é capaz de encantar crianças e adultos, principalmente por saber dosar momentos de tensão e introspecção. Vale assistir várias vezes para pegar todas as referências.

Meu Amigo Totoro (1988)

Sob a direção de Miyazaki, o filme conta a história de duas irmãs, Satsuki e Mei, que se mudam para uma cidade do interior. Com sua mãe internada em um hospital, as duas moram com o pai. Elas exploram o novo ambiente, cheio de espaços verdes até que um dia, Mei, a irmã mais nova, encontra uma criatura bem diferente, grande e fofa: Totoro.

O longa tem uma duração aproximada de 1h30min, onde conta como as garotas estão lidando com uma situação da ausência da mãe de uma forma leve, esperançosa e positiva. Totoro tem um papel primordial nesses momentos, já que ele ajuda as duas em instantes bem complicados, mostrando que é possível resolver os problemas com a ajuda dos amigos.

Por mais estranho que possa parecer, “Meu Amigo Totoro” é um filme bastante metafórico, tratando principalmente da solidão, além de tratar como Satsuki precisou assumir um papel um tanto materno para cuidar de Mei na infância, já que ela tinha por volta de onze anos. Além disso, é possível notar que o enredo também aborda como as crianças têm uma visão pura, aberta e sem nenhum preconceito do mundo.

O filme pode ser visto várias vezes, por várias gerações e jamais vai cansar ou levar o espectador a não se encantar por pelo menos um de seus aspectos. Esse é um daqueles títulos que vai se manter sempre atual.

Serviço De Entregas Da Kiki (1989)

Tendo Miyazaki responsável pela direção, roteiro e produção, o filme conta a história de uma garota aprendiz de bruxa que acabou de completar treze anos. Animada com a tradição familiar, Kiki parte do interior onde morava junto de seu gatinho preto, Jiji, em busca de um nova cidade como parte de seu treinamento. Kiki passa a morar em uma cidade maior, onde decide montar um serviço de entregas, aproveitando sua habilidade de voar usando uma vassoura. 

O filme é baseado em um livro homônimo da escritora japonesa Eiko Kadono, publicado em 1985. Em seu enredo, o longa mostra uma personagem feminina que apesar da pouca idade, sonha com sua independência. Ela é dona de uma personalidade forte, além de ser persistente e inteligente, mostrando que mesmo quem tem a coragem de perseguir seus sonhos pode ter momentos difíceis – mas o importante é nunca deixar de tentar. 

É na simplicidade dos momentos corriqueiros do filme onde são mostradas as maiores lições. Além disso, é praticamente impossível não se identificar ou não sentir empatia por Kiki em algum momento. É com certeza um dos roteiros mais simples e encantadores do estúdio.

Memórias De Ontem (1991)

Enquanto os três primeiros filmes tiveram a mão de Miyazaki, “Memórias de Ontem” foi dirigido por Isao Takahata. Vale ressaltar que ele não desenhava e só passou a trabalhar com animação a partir da fundação do Studio Ghibli. Apesar disso, ele era muito ligado a música, o que leva uma boa qualidade na trilha de seus longas.

Taeko é uma workaholic de 27 anos que sempre viveu em Tóquio. Ela decide viajar para uma cidade do interior chamada Yamagata para visitar a família de seu cunhado durante a colheita do açafrão-bastardo, que é feita apenas uma vez por ano. É nesse momento que ela passa a lembrar de acontecimentos da sua infância, em 1966.

“Memórias de Ontem” não é um filme para todos os públicos. Ele tem um foco muito grande em mulheres adultas, ali perto da virada dos trinta anos. Talvez para os demais públicos possa soar com como longa chato e de ritmo muito lento, chegando a ser cansativo, porém o maior motivo disso seja por causa da identificação que o espectador possa ter. Existe uma grande exposição nos diálogos da narrativa, o que pode se tornar mais um problema.

O Porco Rosso: O Último Herói Romântico (1992)

De volta à direção, Hayao Miyazaki resolveu abordar vários assuntos de seu interesse em “Porco Rosso: Último Herói Romântico”. Como bom conhecedor de acontecimentos e fatos históricos, ele aborda aqui a ascensão do fascismo no período entre guerras, tendo como plano de fundo a Itália da época do governo ditador de Mussolini. Na animação, fica claro o amor de Miyazaki pelos aviões e pilotos de guerra, sendo o Porco inspirado no Barão Vermelho, um famoso aviador alemão.

Na Itália, ali pela década de 1930, Marco Porcelino Rosso é um piloto de aviões aposentado após vivenciar os horrores da guerra. Seria tudo perfeito, se ele não tivesse sido vítima de uma maldição que o transformou em porco. Apesar do acontecido, ele ainda continua com as habilidades de humano, sendo agora chamado de Porco Rosso e mantém toda sua capacidade para aviação.

Apesar de ser inspirado em um mangá que o próprio Miyazaki escreveu, o filme tenta trazer algo mais leve, tendo até mesmo um esboço de humor e alívios cômicos, totalmente diferente da sua forma convencional de contar histórias. Particularmente, considero a narrativa meio atrapalhada, mas muito válida por experimentar novas formas na trajetória do estúdio. O longa ainda faz uma homenagem linda à grandes nomes do cinema clássico como Clark Gable e Humphrey Borgart.

Eu Posso Ouvir O Oceano (1993)

“Eu Posso Ouvir o Oceano” é um filme feito com um orçamento menor, produzido para ser lançado no canal japonês de televisão Nippon TV. Dirigido por Tomomi Mochizuki, o longa é baseado no mangá homônimo de Saeko Himuro. A estratégia utilizada aqui pelo Studio Ghibli foi dar chance aos funcionários mais jovens de fazerem um filme relativamente barato (infelizmente, tanto o orçamento quanto o prazo foram estourados).

Rikako é uma adolescente que está passando por uma fase complicada, Após o divórcio de seus pais, ela precisa se mudar de Tóquio para Kochi, uma cidade litorânea. Na nova escola, a menina encontra Taku e Yutaka que sempre foram melhores amigos até conhecerem a novata.

Apesar do baixo orçamento, “Eu Posso Ouvir o Oceano” tem um bom nível técnico e uma história bem interessante sobre amadurecimento, amizade, amor e relacionamentos. É notório que ele facilmente pode encantar os olhos do público.

Pom Poko: A Grande Batalha Dos Guaxinins (1994)

Marcando o retorno de Isao Takahata, “Pom Poko: A Grande Batalha dos Guaxinins” é mais voltado para o público infantil e, com um toque de realidade, aborda assuntos necessários como a preservação das florestas e todo o mal que o desmatamento causa. Assim como Miyazaki, Takahata procurou abordar um assunto muito relevante para o Japão na época, porém de uma forma mais simples que o companheiro.

Por causa dos desmatamentos provocados por grandes conglomerados industriais, os guaxinins da trama estão perdendo seu habitat natural. Porém, eles decidem lutar por suas “casas” utilizando o poder da transmutação, como nas lendas dos tanukis, e assim afastar aqueles que trouxeram a destruição.

“Pom Poko” é um claro exemplo de um filme que foi feito de forma didática para as crianças. Ele utiliza principalmente a antropomorfização para se aproximar do público. Apesar de ter feito uma boa bilheteria, esse é um dos filmes mais cansativos do estúdio, possuindo um ritmo muito arrastado. O enredo simples, entretanto, funciona à seu favor.

Sussurros Do Coração (1995)

“Sussurros do Coração” é um dos poucos filmes que não tem Miyazaki ou Takahata dirigindo. Dessa vez, à frente do projeto estava Yoshifumi Kondo, cotado para ser um dos grandes nomes do estúdio. Infelizmente, Kondo morreu em 1998 por conta do estresse causado pelo grande volume de trabalho, sendo esta a única animação dirigida por ele no Studio Ghibli. 

Na história, Shizuku é uma adolescente que ama a leitura e sonha em ser escritora, por isso ela decide ler vinte livros durante o verão. Porém, todas as obras que ela pegou na biblioteca já haviam estavam em posse de Seiji, um garoto o qual ela julga ser irritante de início, mas logo começa a se aproximar.

O longa feito para a televisão é baseado em um mangá homônimo de Aoi Hiiragi. Sendo contado em uma abordagem conhecida como “slice of life”, o roteiro possui um jeito mais natural de narrar, abordando a vida de um ângulo mais puro. Apesar de não ser um filme incrível nem perfeito, ele cumpre sua proposta de mostrar algo doce e sutil, mostrando que existe uma beleza na simplicidade.

O filme está classificado como uma fantasia, mas não explora mundos fantásticos e nem tem inúmeras viradas. São acontecimentos simples e corriqueiros, repleto de cenas fofas que prendem o espectador. Particularmente, tenho uma grande proximidade com o filme, sendo um dos filmes que mais assisti na adolescência e, é bem provável que haja uma maior identificação com esse título para quem esteja passando por essa fase.

Princesa Mononoke (1997)

“Princesa Mononoke” é um dos filmes mais famosos dirigido por Hayao Miyazaki, sendo o sétimo dele no Studio Ghibli. Esse foi um dos primeiros longas que impactou o Ocidente e levou muitos a conhecer as animações do estúdio japonês. Tudo isso pela forma como ele foi feito, sendo um trabalho quase perfeito de Miyazaki.

Durante a Era Muromachi (1336 – 1573), período compreendido como uma fase medieval do Japão, Ashitaka é um príncipe de um povoado que sofreu o um ataque de um demônio. Apesar de conseguir vencê-lo, ele foi amaldiçoado e por isso decidiu deixar o vilarejo para procurar a “cura”. No meio desta aventura, Ashitaka encontra San, uma garota que foi criada por uma tribo de deuses-lobo. Infelizmente, ela nutre um ódio pelas pessoas que estão destruindo a floresta sagrada e deixa sua humanidade de lado.

O filme custou cerca de 20 milhões de dólares, sendo uma das animações mais caras do cinema japonês. O investimento compensou: arrecadando 158 milhões durante a exibição mundial, a produção recebeu inúmeras críticas positivas e se tornou a maior bilheteria do Japão até o lançamento de “Titanic” (1997). Chama atenção a técnica utilizada por Miyazaki que, apesar do orçamento gordo, utilizou o mínimo de computação gráfica, sendo feito praticamente por inteiro à mão, assim como vários outros do estúdio. 

É interessante observar que Miyazaki estava muito confortável ao fazer esse filme, principalmente por ele saber muito bem como abordar a relação entre homem e natureza, sendo esse o assunto principal de muitos de seus trabalhos.

Meus Vizinhos, Os Yamadas (1999)

Após o grande e estrondoso sucesso de “Princesa Mononoke” (1997), todos estavam muito ansiosos para o novo lançamento do Studio Ghibli. Eis que em 1999 Isao Takahata trouxe uma adaptação das tirinhas de um jornal japonês. Nono-chan, do autor Hisaichi Ishii, chegou às telonas com o nome de “Meus Vizinhos, Os Yamadas”, sendo mais um filme em “slice of life” a mostrar o cotidiano.

A família Yamada é formada pelo pai, Takashi; a mãe, Matsuko; o filho adolescente Natsuko; a caçula, Nonoko; a avó Shige e o cachorro pochi. O filme conta o dia-a-dia dos seis em esquetes focadas em cada personagem. Existe uma sensação muito forte de estar “assistindo” um quadrinho pois não existe um único enredo; é como se fosse uma coleção de micro-histórias.  

Mais uma vez temos um filme simples, mas de grande valor, sendo uma celebração à vida e ao cotidiano. O longa foi o primeiro a utilizar a tecnologia digital de forma integral. Para emular a pintura em aquarela, foi utilizada a pintura digital, algo semelhante aos “brushes” do programa Photoshop.

A Viagem De Chihiro (2001)

Chihiro é uma menina de dez anos que está de mudança para uma nova cidade junto de seus pais. No meio do caminho, o pai resolve tomar um atalho para chegar antes do caminhão da mudança, é nesse momento que eles encontram um túnel deserto, escondido em meio à um bosque. Ao chegar ao outro lado, eles percebem uma construção bastante antiga, levando o patriarca a acreditar que ali era um parque de diversões da década de 1990. Os pais de Chihiro ficam encantados com o lugar e sua disponibilidade de comida, enquanto a garota, preocupada, dá início a uma jornada de investigação do ambiente e sua cultura.

Além de ser uma narrativa sobre o rito de passagem da infância para a vida adulta, o enredo é cheio de metáforas críticas. A cultura japonesa, que sempre esteve presente na obra de Miyazaki, é uma delas, devido à abertura ao mundo que o Japão teve após o fim da Segunda Guerra Mundial e a subsequente valorização do novo em detrimento aos valores milenares. Outra crítica aberta é ao sistema capitalista e sua ganância, sendo esse um dos sentimentos mais explorados durante o longa. O silêncio ainda é usado como uma ferramenta poderosa em momentos-chave da narrativa.

“As Viagem de Chihiro” (2001) foi o filme que fez o Studio Ghibli se consolidar aqui no ocidente, conquistando uma legião de fãs. Foi também o longa que desbancou gigantes como a Disney e levou o Oscar em 2003 de Melhor Filme de Animação, sendo o único de língua não-inglesa até agora a ganhar o prêmio.

Hayao Miyazaki desistiu da sua aposentadoria para assumir o projeto, sendo responsável pelo roteiro e direção. O resultado não poderia ser outro: uma obra prima em vários quesitos, tanto em narrativa, como em visual. É visível a entrega de Miyazaki ao projeto. Mostrando toda sua genialidade, a identidade do artista fica clara ao levantar de forma metafórica e visceral todas as suas crenças.

O Reino Dos Gatos (2002)

A estratégia do Studio Ghibli à esta altura já estava clara: o plano era intercalar filmes de um projeto mais ousado com outro mais “comum” ou simples, mais fácil de agradar grande parte da audiência. “O Reino dos Gatos” surge então como um spin-off de “Sussurros do Coração” (1995), dirigido por Hiroyuki Morita.

Haru é uma garota japonesa bem comum, porém um pouco preguiçosa. Um dia ela salva um gatinho que seria atropelado, ao tirá-lo do meio da rua. Um pouco depois do acontecimento, durante a noite, ela recebe a visita do rei dos gatos. Ele a leva para o mundo dos felinos e a transforma em uma gata, além de obrigar Haru a casar com o príncipe Lune.

Aqui temos um filme bem fantasioso, digno de ser chamado de uma aventura nada convencional. Ainda sim é bem fácil se prender ao filme, tanto por ter uma arte bem bonita, como por ser mais curto, simples e direto. Recomendo fortemente que antes de você assistir a esse longa, assista “Sussurros do Coração”.

O Castelo Animado (2004)

Chegamos ao filme da lista que divide os fãs de Miyazaki. Após o lançamento e todo o sucesso merecido de “A Viagem de Chihiro” (2001), era bastante improvável que o gênio da animação superasse sua grande obra. Com a produção de 2004, alguns acreditam que a qualidade de Hayao caiu e outros defendem que se manteve em alto nível.

Sophie é uma jovem que durante um passeio é importunada por um grupo de homens do exército, sendo salva por Howl. O encontro dos dois desperta a atenção e inveja da Bruxa das Terras Abandonadas que lança um feitiço na garota, transformando-a em uma idosa de cerca de 90 anos. À procura de uma solução para o problema, ela encontra um jovem mágico que é o único capaz de enxergar sua verdadeira aparência.

O filme é uma adaptação do livro “O Castelo Encantado” da escritora britânica Dianna Wynes Jones, publicado em 1986. A atmosfera do longa é linda, com direito a cenas de tirar o fôlego. O filme conseguiu uma bilheteria na primeira semana de exibição de 14,5 milhões de dólares só no Japão, somando um total de 236 milhões de arrecadação no mundial. Além disso, ele foi indicado a nove prêmios, incluindo o Oscar de 2006 na categoria de Melhor Animação.

Contos De Terramar (2006)

Se em “O Castelo Animado” (2004) os fãs ficaram divididos, em “Os Contos de Terramar” (2006) eles entraram em um consenso que este foi o filme mais fraco do estúdio. Antes de mais nada, tenha em mente que ele é dirigido pelo filho de Hayao Miyazaki, Goro, sendo sua estreia na direção das animações, já que seu pai andava bem ocupado com outros projetos.

Na trama, após matar o seu pai, o príncipe Arren foge de seu reino, encontrando no caminho o feiticeiro Ged, que passa a viajar junto dele até a casa da bruxa Tenar. Ao chegar lá, Arren encontra uma menina misteriosa e que não lhe inspira confiança de início, porém os dois passam a trabalhar juntos para solucionar o desaparecimento de Ged e Tenar.

O filme é uma adaptação da série de livros “Terramar” da autora americana Ursula Le K. Guin que procurou o Studio Ghibli para animar sua obra. Particularmente, esse é o longa mais fraco do catálogo, e afirmo com propriedade. Assisti cinco vezes para ter certeza disso.

Ponyo (2008)

“Ponyo” (2008) é um dos trabalhos de Hayao Miyazaki mais voltados para o público infantil e modesto. Assim como “Meu Amigo Totoro” (1988), o filme vem explorar o tema da amizade entre uma criança e uma criatura fantástica, algo que o gênio sabe bem como explorar.

Sosuke é um menino de aproximadamente sete anos que mora em uma cidade litorânea. Um belo dia ele conhece Ponyo, uma princesa peixinha-dourada que se apaixona pelo garotinho. Por isso, ela deseja se tornar humana. Sosuke então promete protegê-la pra sempre.

Você deve estar achando essa história um tanto conhecida, não é? Bem, Miyazaki se inspirou no conto da “Pequena Sereia” de H. C. Andersen e em uma lenda japonesa chamada Urashima Taro, sobre um pescador que salvou uma tartaruga. Seja qual for sua faixa etária, é difícil não abrir um sorriso assistindo ao longa. A dublagem em inglês tem nomes de peso como Matt Damon e Tina Fey, já que a Disney ficou a cargo de lançar o filme nos Estados Unidos.

O Mundo Dos Pequeninos (2010)

“O Mundo dos Pequeninos” (2010) é um filme que Isao Takahata e Hayao Miyazaki queriam muito fazer. Apesar do cargo de diretor ter acabado por ficar com Hiromasa Yonebayashi, existe um dedo de Miyazaki na produção, tendo ele ajudado Keiko Niwa a escrever o roteiro.

Arrietty é uma pequena menina de 14 anos dona de um gênio forte. Ela e sua família são uma espécie parecida com os humanos, porém bem pequenos, chamada de mutuários. Eles vivem no assoalho da casa de Sho, um garoto com uma doença rara. Um dia ele descobre a Arrietty, criando laços de amizade com ela. Contudo, se ela for descoberta pelos outros moradores, correrá grande perigo. Por mais que o enredo possa parecer meio batido, o filme é bem interessante e agrada fácil, principalmente por ter uma arte lindíssima. A história é uma adaptação do livro de “The Borrowers” da britânica Mary Norton.

Da Colina Kokuriko (2011)

“Da Colina Kokuriko” marca a volta de Goro Miyazaki, agora em parceria com o pai, entregando algo bem melhor que sua primeira tentativa. Hayao ajudou na produção e na construção do roteiro. Desta vez, ele resolveu apostar em uma abordagem mais simples de se contar histórias, pondo em prática o “slice of life”.

Em 1963, o Japão se preparava para o recebimento das Olimpíadas de 1964. Dois jovens, Umi e Shun, tem um apego emocional a um velho edifício, que deverá ser demolido para a construção de uma estrutura olímpica. Além de terem se apaixonado, o casal passa a lutar junto para evitar a destruição.

O filme é bem simples, porém é impossível não se emocionar pelo enredo. Porém, vale ressaltar que o longa também tem uma crítica social nas entrelinhas, principalmente por abordar um Japão pós-guerra. Nos anos 1960, por causa da abertura para o Ocidente, os japoneses estavam mais ligados e interessados nos aspectos da modernidade, abandonado de certa forma tradições e símbolos do passado.

Vidas Ao Vento (2013)

Jiho é um jovem míope que sonha em ser piloto de avião, porém devido ao seu problema de visão ele não sabe se poderá atingir seu objetivo. Após sonhar com um engenheiro aeronáutico italiano, ele tem como meta construir o seu próprio avião e vê-lo ganhar o mundo. Quanto ele alcança a idade de ir para a faculdade, ele se muda para Tóquio e, durante a viagem em um trem, conhece Naoko e sua empregada. Nessa viagem, ocorre um acidente e Jiho ajuda as duas, mas cada um segue seu caminho sem ter sido devidamente apresentado. 

Possivelmente esse é um dos filmes mais fracos de Hayao Miyazaki – o que não quer dizer que ele não seja bom. Nele os aspectos da Segunda Guerra Mundial e como ela afetou o Japão são abordados, mas há um debate de que ele não tenha abordado de forma tão coerente os efeitos negativos da tragédia ocorrida em Hiroshima, por exemplo.  

O roteiro não é exatamente um ponto forte, mas ainda sim a narrativa é interessante, principalmente por ter se arriscado numa forma diferente de contar a história de vida de um pioneiro da aviação. Por sua beleza e contemplatividade – e também por ser o último filme dirigido por Miyazaki até agora – o filme provavelmente arrancará lágrimas de grande parte dos espectadores.

O Conto Da Princesa Kaguya (2013)

Quando bebê, Kaguya é encontrada dentro de um talo de bambu em um rio por um camponês, que adota a criança junto de sua esposa Ona. Com o tempo, os pais passam a perceber que a menina parece ter habilidade especiais, o que os faz acreditar na possibilidade de ela ter sido enviada pelos deuses. É então que a família se muda para capital, em busca da vida digna de princesa para Kaguya, onde ela passa a ter aulas de etiqueta, roupas finas e uma mansão. 

Talvez esse seja o filme do Studio Ghibli com o visual mais belo. O estilo do traço é bastante único e a direção artística de Kazuo Oga beira a perfeição, chegando a ser um verdadeiro deleite para o espectador. A trilha sonora também enriquece bastante a narrativa.

“O Conto da Princesa Kaguya” (2013) é baseado em um conto do folclore japonês chamado “O Conto do Cortador do Bambu”. Realizado por Isao Takahata, é um dos poucos filmes com 100% de aprovação no site de críticas Rotten Tomatoes, tendo sido indicado em 2015 ao Oscar de Melhor Filme de Animação, além de vencer o Festival de Animação de Lisboa.

As Memórias De Marnie (2014)

“As Memórias de Marnie” (2014) é o considerado o filme que encerrou as atividades do Studio Ghibli, já que até o fechamento deste texto não há nenhuma novidade sobre possíveis lançamentos futuros. Um ano antes, em 2013, a Hayao Miyazaki se aposentou, sendo seu último trabalho “Vidas ao Vento (2013). Hiromasa Yonebayashi ficou responsável pela direção do longa que marcaria o possível fim do estúdio.

Anna é uma garota tímida e um tanto solitária. Seus pais decidem mandá-la para o interior, devido a asma que ela desenvolveu. Ela sofre um pouco para se adaptar ao novo local, dedicando seu tempo ao desenho de paisagens, por exemplo. Um dia, algo chama sua atenção enquanto desenha: uma menina, que sempre está do outro lado do rio que ela desenhava. Ela decide então atravessá-lo e acaba conhecendo Marnie. As duas acabam por passar muito tempo juntas e se tornam amigas.

Talvez esse seja o filme com o maior “ar de tristeza”. Aqui Yonebayashi apelou demais mais para o lado emocional, se tornando bem cansativo. O longa é do tipo “ame ou odeie”. Para quem gosta de história “melosas”, pode ter certeza que vai amar.