A Forma de del Toro: O sombrio e fantástico universo do diretor

14/03/2018 - POSTADO POR EM Filmes

Guillermo del Toro é um dos diretores mexicanos mais respeitados na indústria do cinema. Neste ano, com o filme de fantasia “A Forma da Água”, ele foi reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas com o Oscar de Melhor Diretor e Melhor Filme. Vamos conhecer mais sobre a história e a filmografia desse grande diretor?

Começo

Nascido em 9 de outubro de 1964, na cidade de Guadalajara (México),  del Toro foi uma criança que tinha o costume de assistir a filmes de terror que sempre lhe davam pesadelos. Após um desses episódios, ele fez uma espécie de pacto com as criaturas que o assombravam: dedicaria a vida ao monstros se eles permitissem que o garoto entrasse em seu quarto sem se machucar. Na adolescência, começou o seu interesse pela sétima arte quando gravou um curta metragem com uma câmera oito milímetros para uma feira na escola.

Um pouco mais velho ele participou do curso avançado de maquiagem de Dick Smith, maquiador de efeitos especiais de “O Exorcista” (1973) e “O Poderoso Chefão” (1972), com quem Guillermo trabalhou até o início do anos 1980, quando também  fundou sua própria companhia, a Necropia. Até o começo da década seguinte, o artista trabalhou como supervisor de maquiagem e efeitos especiais para a TV mexicana, onde foi responsável por algumas produções, como a antologia “Hora Marcada” (1986).

Primeiras Obras

“Cronos” (1993) é um filme de terror mexicano que acompanha a trajetória de um vendedor de antiguidades que dá vida eterna a quem as possui. O longa de baixo orçamento foi o primeiro dirigido e roteirizado por del Toro e com Ron Perlman (lembram-se do Hellboy?), ator que é recorrente em suas produções, como um dos protagonistas.

O longa faturou o prêmio Mercedes-Benz no Festival de Cannes, fazendo com que del Toro fosse contratado anos mais tarde para dirigir o filme “Mutação” (1997), sua primeira produção em Hollywood. Infelizmente, o filme não foi recebido positivamente pela crítica. Guillermo, insatisfeito com o resultado da obra, voltou ao México e fundou a produtora The Tequila Gang. Em 2001, com o filme a “Espinha do Diabo” (2001) um fábula de terror atmosférico com fantasma em um orfanato na época da guerra civil espanhola, conseguiu ser mais um vez elogiado pela crítica e viria para a retornar à Cidade das Estrelas.

Retorno a Hollywood

De volta à Los Angeles, seu primeiro trabalho foi “Blade II” (2002), continuação do filme do herói da Marvel estrelado por Wesley Sniper. Nas adaptações cinematográficas dos personagens da Dark Horse Comics, vieram “Hellboy” (2004) e “Hellboy 2: O exército dourado” (2008). As produções tiveram sucesso de público mundial, o que acabou deixando nome do mestre em evidência. Entre esses blockbusters, em 2006, del Toro ainda lançou uma de suas obras mais consagradas: a fábula sombria chamada “O Labirinto do Fauno”, premiado com três Oscars (Melhor Roteiro, Melhor Maquiagem e Melhor Designer de Produção), erguendo o mexicano como um dos realizadores mais respeitados em Hollywood.

Após 2008, o diretor focou no trabalho de produção, colaborando na função em  obras como “Splice – A Nova Espécie” (2009), “Biutiful” (2010), “Não tenha medo do escuro” (2011). Nesse período, firmou uma parceria com o estúdio de animação Dreamworks, como produtor e supervisor de animações, a saber: “O Gato de Botas” (2011), “Kung Fu Panda 2” (2011) e “Origens dos Guardiões” (2012).

Guillermo foi escalado como diretor para “O Hobbit” (2012), porém apenas colaborou com o roteiro; por questão de logística e tempo, ele desistiu para se concentrar no seu novo projeto, que foi o responsável pelo seu retorno à cadeira de direção. O longa de aventura e ação “Círculo de Fogo” (2013) é uma homenagem assumida a filmes japoneses de monstros gigantes; já o romance gótico “A Colina Escarlate” (2015) foi descrito pelo diretor com uma reverência aos filmes de terror dos anos 1960.  

Del Toro ainda dirigiu a animação “O Caçador de Troll” (2016). Em 2017, ele finalmente lançou “A Forma da Água” mais uma fábula. O romance entre a faxineira muda de uma instalação secreta do governo e a espécie sobre humana de anfíbio que é mantido lá foi muito bem recebido pela crítica. O filme foi a consagração do estilo do realizador e levou várias premiações além do Oscar, como O Leão de Ouro do Festival de Veneza, o Bafta, Globo de Ouro e mais de 90 outros prêmios!

Estilo cinematográfico

Del Toro é um diretor autêntico e muito seguro da forma como conta as histórias que propõe para cada público. Com sua filmografia repleta de histórias fantásticas, onde se misturam elementos de horror à doce fantasia, o diretor quase sempre questiona sobre a natureza humana. Os monstros são utilizados como instrumento para mostrar como o mundo trata os diferentes.

Seus protagonistas muitas vezes carregam uma inocência e fragilidade que fazem com que os espectadores criem um vínculo de cuidado, mas muito além de apenas “frágeis”, os personagens são sempre pessoas curiosas, aventureiras, como crianças que se deparam com um novo universo para brincar e explorar. Acaba sendo um reflexo da maneira como del Toro, ele mesmo enxerga o cinema. As suas particularidades são traduzidas em uma filmografia diversa, com uma mistura homogênea de gênero clássicos e modernos e a unidade cinematográfica que faz com o “leitor” consiga identificar bem suas obras ao assisti-las.

Nightmare Alley” é o nome do próximo projeto do diretor que ainda não tem data para estreia e se encontra na fase de produção de roteiro. Além do cinema, Guillermo caminhou por outras artes, como a literatura. Além do livro inspirado no roteiro de “A Forma da Água”, o bendito foi responsável pela “Trilogia da Escuridão”, adaptado para série “The Strain” (2014). Agora, Guillermo del Toro vai se aventurar no universo dos jogos  eletrônicos, por meio de uma parceria com Hideo Kojima, no jogo exclusivo para Playstation 4: “Death Stranding”. A previsão de estreia é para este ano de 2018.

Guillermo del Toro  é o grande nome quando se trata de cinema de fantasia, isso graças a uma grande carreira com obras que uniram histórias humanas e sensíveis e ambientes sombrios e visualmente bonitos, sempre recheados de criaturas e monstros ao mesmo tempo exuberantes e assustadores, o que sempre nos deixou fascinados. Só nos resta a ansiedade para saber qual novo universo del Toro nos prepara daqui pra frente.