O diretor do icônico “Scott Pilgrim Contra o Mundo” (2010) e da satírica “Trilogia Cornetto” adquiriu ao longo dos anos um grande número de seguidores fiéis. Seu novo filme “Em Ritmo de Fuga” passou quase uma década em desenvolvimento até que finalmente saiu do papel e foi lançado este ano. A espera valeu a pena.
No mundo do crime
Baby (Ansel Elgort) é um jovem motorista de fuga que trabalha para o mercenário Doc (Kevin Spacey). Baby tem perda de audição, e para amenizar o zumbido constante em sua mente, nunca tira os fones de ouvido. Com a música certa tocando, ele é capaz de escapar das situações mais impossíveis, despistando a polícia e gangues rivais.
Acontece que quando Baby acha que se libertou do mundo do crime para ter uma vida com sua nova namorada, Debora (Lily James), Doc reaparece para intimidar o rapaz, que se vê obrigado a participar de um último roubo bastante arriscado. Jon Hamn, Jamie Foxx e Eiza Gonzalez completam o espetacular elenco como membros da equipe para o trabalho final. É um deleite ver o grupo andar pela cidade com roupas de gangster, armas na mão e um ar imponente e descompromissado.
Feito técnico
Não passa despercebido o cuidadoso trabalho por trás da produção do filme em sincronizar os movimentos em tela com o som da música de fundo. Como seguimos Baby durante o longa, estamos sempre ouvindo as canções que tocam em seus fones de ouvidos, e tudo acontece de acordo com o ritmo. Detalhes como uma curva brusca feita por um carro ou algum objeto sendo colocado em cima de uma mesa são meticulosamente coreografados com a batida da música. Quando o longa chega ao fim, já surge no espectador a vontade de assistir novamente para reparar mais atentamente as pequenas sincronias da obra.
A fotografia de Bill Pope, que trabalhou em filmes fortemente visuais como “Matrix” (1999) e “Mogli: O Menino Lobo” (2016), faz um ótimo trabalho aqui. As perseguições automobilísticas são sempre filmadas de forma dinâmica e atraente. No insano ato final da produção, Pope se utiliza de fortes iluminações neon para criar uma atmosfera ameaçadora, conseguindo resultados bastante eficientes.
Foto: Divulgação
A música de Baby Drive
Edgar Wright já escreveu o roteiro com as músicas que queria em mente, e é por isso que elas foram inseridas de forma tão orgânica no enredo. No início da trama, quando Baby anda pela rua a caminho de uma cafeteria, Harlem Shuffle não apenas é ouvida, mas sua letra aparece escrita em placas e paredes pela cidade – uma bela surpresa que demonstra o olhar cuidadoso do diretor.
Com uma seleção musical eclética que inclui jazz dos anos 60, rock dos anos 90 e até hip-hop gravado especialmente para a trilha, o filme acerta em todas as suas inserções musicais. O trabalho primoroso de Wright merece reconhecimento, desde a idealização do conceito à execução e trabalho com o elenco. Em uma época onde blockbusters usam e abusam do CGI, “Em Ritmo de Fuga” mostra que não é preciso uma fanfarra de efeitos especiais para se fazer uma obra de ação envolvente e esperta. Tudo o que você precisa é de uma trilha matadora.