Death Note: O maior erro da Netflix

25/08/2017 - POSTADO POR EM Filmes

Hoje, 25 de agosto, a Netflix lançou o live-action americano do anime/mangá “Death Note”, sobre o qual já fizemos uma matéria antes. As expectativas para o filme estavam bem baixas, e eu (#Isabelle), como fã, quis acreditar que não seria tão ruim. Me decepcionei. A Netflix conseguiu produzir o pior live-action que eu já assisti, superando “Dragonball Evolution” (2009) e “O Último Mestre do Ar” (2010). Quer saber mais? Então continua lendo, mas lembrando: o texto está cheio de spoilers.

O Kira americano

É difícil começar a dizer por onde o filme começou a dar errado. Eu sou aquela fã que quanto mais parecido com a obra original o live-action for, melhor. Isso, claramente, não aconteceu com o longa da Netflix. A história começa na escola de Light Turner (sim, o sobrenome e até o primeiro nome dos personagens foram alterados para serem americanizados. Mas acreditem: isso é o de menos). Ainda nos primeiros minutos, o jovem vê um caderno caindo do céu, intitulado “Death Note”. Diferente do personagem original, o Light americano é um garoto passivo que sofre bullying e tem uma personalidade alterada por causa da morte de sua mãe. Seu pai é policial, e os dois não têm uma relação muito harmoniosa. O filme trata deste passado trágico para tentar justificar a atitude de falso heroísmo do personagem, o que foi completamente desnecessário.

Tanto no anime quanto no mangá, Light passa por um processo com o caderno. Primeiro, ele não acredita que pode matar pessoas escrevendo os nomes delas no Death Note, e quando descobre que sim, ele sente que pode mudar o mundo e se tornar um “deus”. No filme, o plot acontece muito rápido e de uma maneira manipulada. Ryuk, que é o shinigami (deus da morte) e proprietário original do Death Note, manipula Light de uma maneira desanimadora, já se distanciando do que Ryuk realmente é na obra original, pois ele não ajuda e nem atrapalha os planos do Light, além de nunca ter autoridade sobre ele. A propósito, a computação gráfica do Ryuk não ficou mal feita, mas super feia, fugindo totalmente do conceito original.

Quando Turner mata a primeira pessoa, o shinigami explica que ele só tem sete dias para decidir se quer ou não continuar com o caderno, já acrescentando uma nova regra que não existe no título original. O diretor Adam Wingard explicou em uma entrevista que novas regras foram acrescentadas porque “queríamos ter certeza de que existisse uma que obrigasse Light a usar o Death Note independentemente de ele ter mudado de ideia ou ganhado consciência”. Isso não seria necessário se a personalidade dele não tivesse sido alterada.

Ele passa a ser conhecido pelas pessoas como Kira, mas diferente de como no título original, não é porque o nome é derivado da pronúncia japonesa da palavra em inglês, “killer” (“assassino”), e sim porque significa “luz” em russo e celta, já que todos estão nos Estados Unidos e seu nome traduzindo para o português também significa “luz”.

O menor dos males

Depois de tantas reclamações dos fãs porque o ator que interpretaria o L seria negro, ele foi o personagem que mais se aproximou do original. Não foi perfeito, mas as principais características foram bem aproveitadas, como o vício por doces e a mania de agachar-se ao invés de se sentar. Diferente do anime/mangá, ele não foi contratado pela Interpol, e começou a investigação por si só. A polícia apoia muito facilmente as decisões de Kira, dificultando totalmente a investigação do antagonista.

O roteiro também não mostra uma parceria entre L e Light. Chega até ser frustrante, pois na obra original ambos travam uma luta entre gênios e até trabalham juntos, mas não vemos isso no filme. No final, fica até a dúvida se L escreveu ou não o nome de Turner no caderno, e sabemos muito bem que em “Death Note” ele jamais escreveria.

A Verdadeira Kira

Acreditem ou não, mas pela primeira vez a Misa (no filme, ela se chama Mia Sutton) não é submissa ao Light. Ela tem uma personalidade extremamente forte e consegue apresentar o melhor arco da história. Em certas cenas, Mia controla toda a situação e consegue ser tudo o que eu (#Isabelle) esperava para um Kira.

Explicando rapidamente: Mia e Light estudavam no mesmo colégio, e assim que ele se torna proprietário do caderno, os dois se encontram. Mia acaba vendo o Death Note (porque Light andava com ele no colégio) e ele simplesmente conta tudo a ela só para impressioná-la. Mais uma vez, a produção se distanciou demais da essência do personagem, pois Light, além de não ser burro ao ponto de levar o caderno para a escola e ficar conversando sobre ele em voz alta, nunca ia fazer questão de agradar e impressionar ninguém.

Outros live-actions

O Japão já produziu duas franquias diferentes de live-actions de “Death Note”. A primeira tem ao todo quatro filmes e um mini dorama com três partes. Já a segunda é um dorama com onze episódios. Se você quer assistir a uma adaptação boa de “Death Note”, então recomendo todas essas. Não só por se passar no Japão, mas também pela fidelidade aos personagens. O Light de Nat Wolff jamais chegará aos pés do Light de Fujiwara Tatsuya. Realmente, a Netflix quis fazer algo mais original, mas diferente de outras adaptações, como a de “Ghost in the Shell”, não deu muito certo. Inclusive, os produtores afirmaram em uma entrevista que não contrataram atores asiáticos para o filme, pois não encontraram nenhum que fosse fluente em inglês. No entanto, sabemos que existem muitos atores descendentes asiáticos morando nos Estados Unidos e atuando na língua de lá. Ou seja, foi uma desculpa esfarrapada.