Baseado na obra homônima de Stephen King , “A Torre Negra”, do diretor Nicolaj Arcel, chega aos cinemas nesta quinta-feira, 24 de agosto. No enredo, o último Pistoleiro do mundo-médio, Roland Deschain, tem como principal objetivo chegar à tão famosa Torre Negra do título – o centro de toda A Criação. Sem muitas enrolações, nós vimos o filme e vamos contar aqui nossas impressões. Longos dias e belas noites, parceiros, vamos lá! E lembrando que o texto pode conter spoilers.
19:Recomeço
O longa é um western sem sustança misturado com um thriller de ação. Encontramos um Roland (Idris Elba) cheio de ódio (mas nem tanto, rs) e sentimento de vingança no coração. Ele está na cola de um antigo mago de muitos nomes (Merlin, Marten, Randall Flagg, Walter Paddick) conhecido como “O Homem de Preto” (Matthew McConaughey). Roland está para Walter assim como O Doutor está para o Mestre ou o Batman está para o Coringa: todos vivem como um cachorro correndo atrás do rabo, numa peleja sem-fim.
O Homem de Preto fugia pelo deserto e infelizmente isso durou apenas 5 segundos em tela. Bem, minha experiência (#George) como leitor de Stephen King é que as coisas tem um tempo certo para acontecer. Mas eu não estava lendo um livro, e sim vendo um filme. Um filme onde a fuga de Walter, o Homem de Preto, não parecia tão longa quanto eu esperava que fosse.
De toda forma, Walter estava lá como elemento fundamental da Saga. Durante as gravações especulou-se que uma vilã chamada Tirana (Abbey Lee) – que aparece rapidamente em um dos últimos livros de A Torre – teria um papel importante, mas isto não ocorreu. Ela aparece em pouquíssimas cenas, deixando o mago brilhar sozinho. A presença de Tirana e toda a trama com as crianças “Iluminadas” aponta, contudo, para algo importante de ser dito: o filme não segue a mesma linha temporal dos livros. Encontramos uma situação bem similar à do quinto volume, “Os Lobos de Calla”.
Chambers
Paralela à caça da Roland, temos a história de Jake Chambers (Tom Taylor), um garoto com sonhos cheios de visões do mundo-médio. Tratado como uma criança traumatizada, Jake vive em um lar pouco saudável com um padrasto nada agradável e sua mãe levemente angustiada. O menino é o que no universo de Stephen King podemos chamar de “Iluminado” (Danny isn’t here, mrs. Torrance), uma pessoa com poderes psíquicos. Jake, por sua condição, acaba por cair no radar de Walter, que utiliza crianças “iluminadas” e seus poderes para destruir a Torre Negra.
Ao fugir dos agentes que o perseguem, Chambers encontra a porta que o leva ao mundo de Roland. Ao deparar-se com o Pistoleiro (que também surgia como visão em seus sonhos), a criança entende finalmente que seu propósito é ajudar na busca à Torre Negra.
A vingança nunca é plena
Como já dito, o Roland cinematográfico tem um objetivo: Vingança! Ele já não se considera um Pistoleiro da Linhagem do Eld (um mitológico Rei, Arthur) e pretende apenas encontrar o Homem de Preto e crivá-lo de balas. Jake surge como uma bússola moral para o homem, fazendo-o perceber que sua missão é, na verdade, encontrar a Torre. Tudo isto estaria muito bem se o filme fosse bem resolvido, mas a verdade é que não é. O “homem fora dos trilhos” do western clássico que encontra finalmente uma razão para voltar à luta poderia ser o melhor arquétipo para enquadrar o personagem interpretado por Idris, mas fica difícil sequer acreditar que um dia ele teve um rumo.
O grande problema do filme é Identificação. Eu (#George) não sei muito bem se a intenção era produzir o piloto de uma série, mas não há profundidade em nenhum tema, tudo é muito sintético e superficial. A trilha sonora, que poderia ser um trunfo, é irrelevante (é um faroeste sci-fi de magia!), a montagem não é nada inventiva (parece que a equipe jamais assistiu a um filme de John Ford), Roland dá mais tiros que o Charles Bronson em “Death Wish”, Jake consegue ser uma criança muito pouco carismática, o vilão não convence em sua vilania (em uma cena ele olha para uma menininha conversando com a mãe e diz “Ódio”, fazendo a criança encarar a mulher com cara de quem comeu e não gostou, minha única reação foi “nossa, como ele é O Malvadão, hein?”).
Impressão
A impressão que tivemos da produção é que a grande obra de Stephen King foi comprimida em alguns minutos de ação e clichês. Há a figura fantasmagórica do Pai, os sentimentos de Culpa e Dever, mas todos muito mal aplicados. Se a equipe do longa pudesse fazer uma lição de casa, recomendaríamos que assistissem a alguns filmes de caubói, “Rastros de Ódio” – do já citado Ford -, qualquer coisa com o Clint Eastwood, talvez a série “Firefly”, que possui elementos MUITO parecidos com os da saga “A Torre Negra”. Confesso que eu (#George) fui assistir ao filme com minhas expectativas bem baixas tentando evitar a decepção, não deu muito certo, pois o que foi apresentado conseguiu me deixar desanimado. Não sou exatamente um fundamentalista das adaptações, acredito até que a produção acertou em não trazer personagens a mais do universo (como o trapalhão Oi, que eu adoro, mas que com certeza seria apenas um alívio cômico), mas fica difícil ver a obra de Stephen King ali.
A direção aparentemente concentrou-se em fazer de Matthew McConaughey um vilão “que todos amamos” e deixou de lado as nuances psicológicas de Roland e Jake, as sub-tramas com forte carga dramática que são exploradas nos romances, o teor épico da saga que ao longo de 33 anos foi escrita por uma das mentes mais geniais (se não genial, bastante produtiva e original) da literatura americana.
Nós não temos um sistema de ovinhos ou estrelas, então não podemos dar uma nota para a obra, mas só queremos dizer que Roland merecia coisa melhor. Infelizmente nos dias de hoje não há mais Pistoleiros. Hollywood esqueceu a face de seus pais, literalmente.