Entrevista: Adams Pinto e o Jardim dos Famintos

14/08/2022 - POSTADO POR EM Conteúdo

Durante a mais recente edição do Sana, que aconteceu em julho de 2022, pudemos ver  muitas coisas legais, como cosplays de personagens que amamos, concursos, itens de colecionador e pegar autógrafos de artistas que já conhecíamos. 

Mas uma das coisas mais legais que acontecem nesse tipo de evento é quando temos acesso a coisas novas. Esse foi o caso do Jardim dos Famintos, livro inspirado em RPG e escrito por Adams Pinto. E é com ele que vamos conversar hoje!

Adams Pinto é um ilustrador e designer cearense. Começou sua carreira já disparando internacionalmente com algumas marcas de estampas geeks para lojas como Teefury, Qwertee e outras, mas seu amor mesmo era pela literatura

Fã de dark fantasy, ele resolveu lançar sua própria história: O Jardim dos Famintos, publicado em 2017 e, mais recentemente, Jardim dos Famintos: Kunkalla. Sucesso em campanha de financiamento coletivo no Catarse.

No livro um grupo de pessoas desperta com máscaras sobre seus rostos e sem nenhuma lembrança do passado. Eles partirão à procura de respostas em territórios selvagens, e apenas juntos conseguirão sobreviver aos mais diversos perigos que se esgueiraram nas trevas. Entretanto, esses mascarados precisarão lidar com suas diferenças e resistir a um misterioso desejo de consumir carne humana que poderá destruí-los.

Depois do contato com Adams, ficamos muito interessados nas suas histórias e tivemos a oportunidade de fazer uma breve entrevista. Continua com a gente pra ler tudo!

Imagem: Divulgação

Roteiro Nerd: Quais as suas influências na escrita e na ilustração?

Adams Pinto: Eu acredito que a escrita e a ilustração, apesar de duas expressões artísticas diferentes, costumam se cruzar no território fértil das ideias. Dito isso, as minhas maiores influências no campo literário são H. P. Lovecraft, Stephen King, Tolkien e Anne Rice. Já os desenhos, me sinto atraído pelos quadrinhos de John Byrne (X-Men), a pintura barroca de Caravaggio e o design macabro de H. R. Giber (Alien).

RN: Por que você escreveu Jardim dos Famintos?

AP: Jardim dos Famintos não foi pensado no primeiro momento como um romance. A ideia inicial era um RPG de mesa focado em uma fantasia obscura com influências diretas do “horror Lovcraftiano”. Mas como eu sou péssimo em improvisação, requisito básico para bons narradores de RPG, adaptei o mundo criado, toda mitologia e personagens em um enredo que eu acreditei ter muito potencial literário. No meio de uma infinidade de sagas nas livrarias, era uma história que ainda não havia sido contada.

RN: Como foi a divulgação do primeiro livro? Você quebrou recordes no Catarse, como conseguiu? Seu livro teve algum trabalho com a imprensa (press kit)?

AP: Eu escolhi publicar o livro através de financiamento coletivo e o engajamento foi feito na base da correria e da camaradagem. Como sou alguém que vem de uma geração que rebobinava fita cassete com caneta Bic, tive que aprender muita coisa sobre marketing virtual e “viralização” online. Montei uma página no quase falecido Facebook, mostrando o processo de produção de Jardim dos Famintos, as ilustrações, e chamei o público para conhecer a história, os personagens e participar de algumas escolhas como a logo da capa etc. Todo resto da propaganda aconteceu de maneira muito orgânica: participação em podcasts de amigos, citações robustas no Twitter, matérias em páginas de conteúdo Geek, cadernos de artes dos jornais locais e até mesmo postagens patrocinadas. A meta era ter um conteúdo em circulação permanente. No fim, Jardim dos Famintos bateu o recorde do Catarse como a maior campanha do Ceará como romance de ficção. 

RN: Jardim dos Famintos é uma distopia?

AP: Um dos grandes trunfos de Jardim dos Famintos é o mistério sobre o seu enredo. Assim como os protagonistas da trama, os leitores também vão descobrindo sobre o mundo em que estão inseridos à medida que a história avança. “Quem sou eu? Onde estou? Por que as pessoas enlouquecem e viram canibais quando sentem cheiro de sangue?”

Esse é o ponto de partida.

Imagem: Divulgação

RN: Se seus livros virassem filmes ou uma série, já pensou em quais atores você gostaria que estivessem na adaptação?

AP: O meu processo de escrita é muito audiovisual. Eu imagino as cenas, principalmente as de ação, como se fossem extraídas de uma série da HBO, Netflix ou similar. Eu idealizo a cinematografia, ângulos de câmera e até a trilha sonora nos porões da minha cabeça. Por essa razão, uma das primeiras coisas que faço ao criar personagens é usar atores reais como referência visual. A maior prova disso está aqui no elenco fictício que fiz para Jardim dos Famintos: https://www.instagram.com/p/CRlq1YBrega/ 

RN: Há chance de ser publicado um terceiro livro?

AP: A saga de Jardim dos Famintos foi pensada como uma trilogia de romances e um RPG como complemento para que os fãs possam viver as suas próprias histórias no ambiente dark fantasy dos livros.   

RN: Para um escritor, o que é mais importante para se manter atualizado? 

AP: No caso de um escritor, a palavra atualizado nem sempre diz respeito ao novo. Eu busco me “atualizar” procurando autores mais obscuros e apócrifos que são pouco festejados. Apesar disso, faço questão de me manter perto das obras dos grandes nomes do mercado internacional que ainda estão produzindo. Afinal, são eles que ditam as regras do jogo. 

RN: Quais as suas obras brasileiras favoritas? E internacionais?

AP:Minha fome por obras nacionais é algo recente. Uma opinião pessoal, acho que o Brasil deslancha com maestria em romances históricos e obras não ficcionais. Gosto muito da Elite do Atraso do Jessé Souza, Corações Sujos do Fernando Morais, O Quinze da Rachel de Queiroz. No momento, estou começando a emergir no romance 999 do cearense Wilson Júnior. 

No cenário internacional, a trilogia do Anel, lida na adolescência, gerou em mim uma vontade de criar as minhas próprias histórias. Tolkien é tão presente no meu imaginário que eu tive a oportunidade de visitar o seu túmulo e fazer um pedido em 2012. Anos depois, conheci o horror cósmico de Lovecraft e me apaixonei por sua visão onírica e quase indecifrável do mal. Seus contos como A cor que caiu do espaço, O chamado de Cthulhu e Ar frio me induziram na forma de trabalhar o medo em meus textos, assim como o Cemitério Maldito de Stephen King. 

Conheça mais sobre Adams e sua obra acessando o site de Jardim dos Famintos ou seguindo o autor nos perfis: @adamspinto e @jardimdosfamintos

Imagem: Divulgação