Conheça Umbrella, o curta brasileiro que pode concorrer ao Oscar

08/01/2021 - POSTADO POR EM Conteúdo

O Brasil pode ter um representante no Oscar 2021 pela 1ª vez na categoria de “Curta-metragem Animado”. Umbrella, dirigido pelo casal Helena Hilário e Mario Pece, tem se destacado em festivais pelo mundo e encantado por sua simples, mas emocionante história.

Com apenas oito minutos, a produção totalmente brasileira é baseada em fatos e retrata a vida de Joseph, uma criança em um orfanato que relembra seus traumas e esperanças pela presença de um guarda-chuva amarelo.

Umbrella é o 7° trabalho de Mario como diretor e a estreia de Helena na função. O texto do curta foi feito há nove anos e lançado pelo estúdio de animação Stratostorm, fundado pelo casal que mora nos EUA.

O Roteiro Nerd conversou com a diretora da animação sobre a inspiração, os desafios e as expectativas para o que pode ser um marco na história audiovisual do Brasil nesta temporada de premiações. Confira a entrevista abaixo.

Roteiro Nerd: Umbrella foi baseado em uma história real, como posto nos créditos. Você poderia contá-la e explicar como surgiu a ideia para transformá-la em curta?

Helena Hilário: A história foi inspirada em um momento que minha irmã experienciou no Lar das Crianças na nossa cidade natal, Palmas no Paraná, e nós não adaptamos a história real. Nos inspiramos em um momento e no sentimento da dor e esperança e construímos uma narrativa com uma mensagem universal para atingir todos os públicos. 

O roteiro do Umbrella foi escrito em dezembro de 2011, após minha irmã Juciely,  ter ido até o Lar de Crianças para doar brinquedos e um menininho pediu por um guarda-chuva. Ela estranhou pois o dia estava bonito e ensolarado, mas ele insistia em pedir por um guarda-chuva

Quando ela finalmente concordou em levar um guarda-chuva para ele, ela descobriu que ele tinha memórias afetivas muito duras e marcantes e que de fato, um simples guarda-chuva era muito importante para ele, muito mais do que poderíamos imaginar.

Ela me ligou. Choramos, refletimos sobre memórias, saudades e esperança. Esse episódio nos marcou muito e esmagou nossos corações. Eu não conseguia parar de pensar nesse menino, e na ideia de que as poucas memórias afetivas que ele tinha eram tão duras. Logo em seguida, eu e o Mario Pece, meu marido e companheiro de trabalho, escrevemos um roteiro repleto de empatia

Queríamos transformar essa dor em arte, e levar uma mensagem de que não devemos julgar as pessoas sem conhecer a história e a batalha que cada um está passando, e que não devemos nos tornar pessoas ruins a partir de situações ruins que passamos na vida. Idealizamos, então, uma curta-metragem de animação sem diálogo. Queríamos que a mensagem fosse universal, e que as emoções e reflexões se dessem pela própria história, pela animação e música.

RN: Quais foram os principais desafios nas etapas de desenvolvimento do roteiro e da animação?

HH: Quando escrevemos o roteiro em 2011, a história estava no papel desde o primeiro dia. Escrevemos com muito sentimento e alma, e colocamos muita verdade na nossa narrativa. 

Tivemos 3 pequenas alterações no roteiro durante todos esses anos. Já na produção da animação, todas as etapas foram desafiadoras, começando por sermos uma equipe super pequena, com limitações e por termos decidido produzir o curta de uma forma independente

Foi um desafio bacana contar a história em 8 minutos e encontrar os elementos na música, na animação, na direção de arte e no CGI em geral que foram fundamentais para passar todo o sentimento e emoções que estavam no roteiro e nos nossos corações.

Tivemos muitos desafios técnicos e artísticos para fazermos do Umbrella um projeto único e especial, e fomos encontrando soluções ao longo da produção. Uma produção independente requer bastante planejamento de produção, planejamento financeiro e estratégico pois além dos desafios, é também um risco. Muitas variáveis precisam funcionar em perfeita sincronia para o projeto dar certo.

RN: O curta já foi exibido em vários festivais pelo mundo. Como têm sido as recepções?

HH: Nunca imaginamos que o Umbrella teria uma recepção tão positiva. Foi emocionante ver o público, jurados e programadores dos festivais sentindo uma conexão pessoal com a história do filme. A cada email recebido com a aceitação nos festivais foi uma alegria imensa. Nesse ano tão difícil, o Umbrella trouxe muita luz e felicidade para toda a nossa equipe, ainda mais em sabermos que conseguimos passar a mensagem de empatia e esperança.

Imagem: Divulgação

RN: O tema refugiados sempre esteve presente nas indicações recentes da Academia. Qual o diferencial de Umbrella para brigar por uma vaga?

HH: Esse ano, o Umbrella é o único curta de animação 100% criado e produzido no Brasil, e com esse nosso jeitinho brasileiro, sabemos como ninguém como vestir a camisa e torcer de verdade, e essa demonstração de paixão e entusiasmo pelo projeto é muito evidente e contagia aos outros à nossa volta. 

O tema do Umbrella é empatia e esperança, e a narrativa dos refugiados acontece rapidamente para estabelecermos uma conexão emocional e entendermos os motivos que levaram o personagem a tomar algumas decisões na história. Infelizmente, nesses últimos anos, este problema social acontece amplamente ao redor do mundo e é possível se conectar imediatamente com o que o outro está passando.

RN: Se a indicação vier, será a primeira produção brasileira na categoria na história. Como vocês se sentem diante dessa expectativa, ainda mais no seu trabalho de estreia como diretora?  

HH: É uma realização e orgulho imenso. O sonho de todo cineasta é conseguir chegar pertinho da maior premiação do cinema mundial, é o reconhecimento do trabalho pela própria indústria, que é composta de muitos ídolos e ícones do cinema. 

Se formos nominados, será um marco histórico para a animação nacional. Até hoje, nenhum curta-metragem de animação independente criado e produzido no Brasil por brasileiros chegou até uma nominação. Estamos todos na torcida para entrarmos na história, mas de qualquer maneira, nossa trajetória até aqui já é um marco muito importante, e toda a equipe do Umbrella está radiante e feliz com a recepção do filme. 

O maior reconhecimento é saber que conseguimos tocar o coração de algumas pessoas e isso é o maior objetivo de um storyteller, ter sua história compreendida e passar uma mensagem positiva que as pessoas irão se identificar.

Nós sempre buscamos fazer o nosso melhor naquilo que nos comprometemos a fazer, e fazemos tudo com muito amor e verdade. Acreditamos muito no storytelling do Umbrella e nos orgulhamos do resultado. Termos chegado até aqui, já é uma conquista muito grande.

Umbrella estará disponível por tempo limitado no canal da Stratostorm no YouTube a partir desta quinta-feira (7).