“Mentes Sombrias” (2018) é a mais nova aposta de franquia sobre adolescentes com poderes especiais. Baseado no livro homônimo — o primeiro de uma trilogia, lançado em 2012 pela autora norte-americana Alexandra Bracken —, o longa nos inicia à história distópica de maneira dinâmica, mas perde o fôlego na segunda metade e deixa várias questões em aberto para uma possível continuação.
Pandemia infanto-juvenil
A trama mostra uma doença que subitamente espalhou-se pelos Estados Unidos matando grande parte da população de crianças e adolescentes. O país entra em pânico, mas o pior acontece quando aqueles que sobreviveram começam a desenvolver poderes que rapidamente são tratados como ameaça. Todos os jovens são levados a campos militares, onde são segregados de acordo com suas habilidades.
A protagonista, Ruby (Amandla Stenberg), vai parar em um desses com apenas 10 anos de idade. Ela logo é identificada pertencente ao grupo dos altamente perigosos. Porém, usando seus artifícios, consegue ser realocada em uma posição mais segura. Assim ela passa os próximos seis anos de sua vida, até que é resgatada por uma médica do local, sem deixar de se aliar, posteriormente, a uma pequena equipe de jovens fugitivos.
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Vida na estrada
Ruby faz amizade com mais três outros personagens que conseguiram escapar de campos de crianças: o esperto Chubs (Skylan Brooks), a carinhosa Zu (Miya Cech) e o corajoso Liam (Harris Dickinson). Juntos, eles saem em busca de um local seguro para viver. O longa baseia-se altamente na relação firmada entre os quatro, em especial no claro interesse amoroso que surge entre Ruby e Liam, o que funciona para a narrativa, já que os atores apresentam boa química em cena. No entanto, a parte do romance começa a soar trivial, como algo que deveria estar lá apenas por se tratar de um filme adolescente.
Já os personagens adultos que conhecemos não conseguem ser bem explorados tanto quanto o quarteto principal. Cate (Mandy Moore, de “This is Us”), a médica que liberta Ruby, e seu companheiro Rob (Mark O’Brien) são mostrados como membros de uma liga que supostamente deveria ajudar os jovens, mas seus reais interesses não são bem analisados. E a caçadora de crianças, Lady Jane (Gwendoline Christie, de “Game of Thrones”), tem uma participação tão limitada, que não consegue encarnar uma intimidação real aos protagonistas.
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Correria desnecessária
A primeira metade do filme é desenvolta e consegue nos explicar de maneira didática qual a grande questão daquele enredo. Somos introduzidos à doença, aos poderes, à “solução” criada pelo governo e à nossa protagonista. O relacionamento de Ruby com os outros três viajantes também consegue ser um ponto positivo. É fácil simpatizar com crianças perdidas que estão procurando por um lugar seguro no mundo, principalmente se mesmo dentro daquele pandemônio elas conseguem continuar agindo como jovens, o que rende cenas leves e divertidas.
O problema acontece na segunda metade da produção. Muita coisa acontece de modo apressado, a reviravolta que vemos é previsível, mas ao mesmo tempo mal explicada. O excesso de ganchos e de acontecimentos sem embasamento deixa a sensação de que o filme não consegue se bastar. Ele funciona à medida que uma continuação tenha possibilidade de existir e você se torne capaz de juntar todas as peças do quebra-cabeças para compreender aquele universo.
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Veredito
“Mentes Sombrias” consegue ser uma história de fantasia bem curiosa e interessante até o ponto em que deixa pontas soltas e pequenas tramas atiradas ao espectador e rapidamente deixadas de lado, sem explorar o potencial que existia ali. Os personagens jovens até são bem sucedidos no carisma, e você torce por eles ao final das contas. Os poderes logram em ser representados de maneiras chamativa e visualmente atraente. Toda a composição de cenários no meio de estradas, prédios abandonados e florestas nos convence que aquele mundo sofreu uma perda grande, mas ainda não está totalmente abandonado.
Infelizmente o que o final reflete é que, na ânsia de criar franquias de sucesso, os estúdios parecem estar ávidos por produções com finais em aberto, que instigariam o público a esperar por mais. Porém, como nem sempre a continuação se realiza, é decepcionante ver mais um filme que não se sustenta por si só. Fica a dúvida se o longa se sairá bem o suficiente nas bilheterias para sabermos um pouco mais sobre essa história.
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