Pode deixar o lencinho de enxugar lágrimas em casa. Não vai ser dessa vez que você vai soluçar de tanto chorar na sessão com uma história de superação baseada em fatos reais. Pelo menos não tanto quanto o trailer sugere.
O filme escolhido é “Uma Razão Para Viver” (2017), ou “Breath”, de Andy Serkis, em sua estreia como diretor. O longa conta a história de Robin Cavendish (Andrew Garfield), um jovem comerciante britânico aventureiro, que sofre com a paralisia da poliomielite contraída em uma viagem ao Quênia, em meados de 1958. Impactado com a realidade de perder os movimentos do corpo, inicialmente, Cavendish deseja morrer, mas é encorajado a enfrentar uma longa e dolorosa jornada de superação ao lado de sua dedicada esposa Diana Cavendish (Clarie Foy), que o faz enxergar a vida com outros olhos. E deveria nos fazer sentir o mesmo. Deveria.
Enredo
A trama é bem apressada em seu primeiro momento, e nos deixa um pouco confuso, dificultando o desenvolvimento de afinidade pelos personagens, ou até mesmo a compreensão da sua importância na história. O que tem uma considerável melhora somente a partir do segundo ato. Andrew Garfield (Robin) tem um bom carisma e nos passa uma verdade com o seu personagem, conseguindo deixar claro sua personalidade apesar de o roteiro não permitir que ele explore todo o seu talento. O mesmo se aplica para Claire (Diana), que faz o típico papel de esposa durona, companheira e determinada em ajudar seu marido, mas com interpretações limitadas a diálogos curtos e pouco expressivos. Nota-se aqui, uma possível falha da direção.
Com a ajuda de um amigo bem inteligente, Cavendish desenvolve a primeira cadeira de rodas da história, com suporte para carregar seus aparelhos respiratórios, permitindo experimentar a vida de paralisia de outra forma, contrariando os médicos que o fadaram ao estado vegetativo e aos poucos dias de vida. É aqui onde a história ganha maiores proporções sensoriais, quando Robin, passa a fazer história ao redor do mundo com sua criação, levando a mensagem de conscientização da integração de deficientes físicos na sociedade. Mas ainda assim, o roteiro de William Nicholson o trata com uma certa superficialidade, deixando claro que toda a jornada e história do personagem principal não foi abordada como deveria.
Foto: Divulgação
Fotografia
Vale um baita destaque para a cenografia muito bem executada nos mínimos detalhes e com bastante atenção para a época em que se passa o filme. Figurino, locações, automóveis, artigos do lar, dentre outros pontos, causam uma gostosa sensação de ambientalismo. A fotografia de Robert Richardson também é algo que chama a atenção, passeando entre os planos abertos e closes bem executados principalmente em Cavendish, que tem a missão de expressar todos seus sentimentos através do olhar. Por sinal, um belíssimo trabalho e colaboração entre direção de fotografia e atuação.
É sempre bom lembrar que as cores e tons de um longa metragem são pontos cruciais para a imersão do telespectador, e aqui, Serkis trabalha muito bem com sua equipe de edição nos tons marcantes de amarelos e dourados em cenas externas, e uma forte presença da frieza dos ambientes fechados onde Robin passou o resto de seus dias, bem explorados com tonalidades cinzas e azuis.
Foto: Divulgação
Veredito
Por fim, ‘’Um Razão Para Viver’’ é um bom filme tecnicamente falando, que projetou uma indicação ao Oscar, mas que não explora muito bem seu roteiro e não executa muito a função de coagir, emocionar e imergir quem o assiste. Infelizmente, dá para sair do filme pouco tocado com a história de Robin Cavendish, e com uma sensação de que é preciso fazer uma pesquisa sobre sua incrível história de superação, humanidade e amor para além do que foi mostrado na telinha.
Foto: Divulgação