Dirigido por Jon Watts, “Homem-Aranha: de Volta ao Lar” (2017) é um FILMAÇO. Apresentando um jovem Peter Parker – com 15 anos –, temos uma narrativa bem diferente do que já vimos em tela (é, eu também senti falta do emo-venom #George). Peter já perdeu seu tio Ben, já ganhou poderes espetaculares e inclusive é basicamente um Vingador: isso tudo antes de entrar no high school!

O Roteiro Nerd assistiu ao filme, e nós listamos aqui quatro motivos pelos quais nosso Cabeça de teia voltou ao mundo do cinema com toda a força, seguidos de uma pequena análise! Se você não tem interesse em ver spoilers, é importante parar de ler por aqui. Assista ao filme e depois você volta, pra ver se concorda com a nossa análise.

Elenco

Algumas pessoas podem ter reclamado de Zendaya como Mary Jane ou Marisa Tomei como Tia May, mas isso tudo desaparece quando vemos todos os atores em cena. Tom Holland é um excelente Peter Parker, e sua relação com todos os personagens e atores flui de maneira muito natural.

Jacob Batalon, o Ned, amigo de Peter, é um ótimo coadjuvante (e amém: ele não é utilizado apenas como alívio cômico); Michael Keaton arrasa como o antagonista Abutre; e o interesse romântico do nosso amigão da vizinhança, Liz, é interpretado por Laura Harrier. A personagem de Laura caminha muito bem na narrativa, não sendo exageradamente “patricinha” nem “nerd”, dois estereótipos comuns em filmes com adolescentes.

Pode-se dizer que, com o amadurecimento do MCU (Marvel Cinematic Universe, o Universo dos Cinemas da Marvel), que possui algumas diferenças dos quadrinhos, os personagens dos filmes também amadureceram.

Abutre

Como dito no tópico anterior, o Abutre de Michael Keaton é incrível. Uma coisa legal no universo do Aranha é que a maioria dos vilões apenas quer dinheiro (esse pedaço de papel que todos nós desejamos ter em grande quantidade #George). Contudo, Adrian Toomes, o indivíduo por baixo do uniforme do antagonista, não deseja apenas o vil metal: ele é um homem de família que procura manter um bom padrão de vida para sua esposa e filha.

Em uma das cenas de confronto entre herói e vilão, Toomes tenta dialogar com Peter, fala sobre as necessidades da vida e de como manter uma família. Peter argumenta da maneira que nos faz gostar do pequeno herói: vender armas para bandidos é errado. O inimigo ainda continua dizendo que foi assim que Tony Stark (mais uma vez interpretado pelo Robert Downey Jr.), mentor do rapaz, fez sua fortuna, mas o Aranha finge que não ouviu e surge então um embate físico entre os dois.

Além de termos um personagem com um visual muito irado, Keaton empresta todo o seu carisma a um cara que foi ferrado financeiramente por alguém (como quase todo mundo em “Homem-Aranha”).

Com grandes poderes…

A famosa frase do moribundo Tio Ben já não é dita nesta adaptação. Tony Stark, que acompanha Peter de longe, usa metáforas absurdas para tratar do grande Tema de Homem-Aranha: a responsabilidade em ser um herói. O aprendiz de Vingador praticamente estraga tudo em “De volta ao lar”. Quebra casas, atravessa cercas e QUASE afunda um navio.

Por essas e outras, Stark fica extremamente decepcionado com o garoto. Mais uma vez, cabe a Parker colocar a mente no lugar e descobrir como pode ajudar o principal Vingador a manter a paz na vizinhança. Por mais que eu – George – deteste o Homem de Ferro e seu jeito debochado, parece que finalmente acertaram a mão. Ele realmente atua como um bom tutor e oferece a chance para que o garoto amadureça com seus erros e cresça como o grande herói que um dia será!

Imagem & som

A gente sempre pensa em como vão fazer a grande batalha entre os heróis ou onde colocarão easter eggs – Stan Lee está lá, como em qualquer obra da Marvel –, mas e tecnicamente? Bem, o filme tem uma trilha sonora, composta por Michael Giacchino, muito engraçadinha e gostosa! Tem uma aura adolescente e mantém muito bem as intenções das cenas (como o clima de suspense na sequência em que Peter finalmente conhece os pais de Liz). A luz na história também é usada de maneira muito interessante, principalmente em um momento em que o Abutre conversa com o Aranha, e as cores dos semáforos, banhando o rosto do vilão, mudam de acordo com suas frases.

Amigão da vizinhança!

Particularmente, sempre gostei muito do Aranha. Seja por ser um adolescente excluído, seja por sempre estar apertado com dinheiro ou por suas paixões atrapalhadas, Peter Parker é um herói cativante. O atual filme não apresenta aquele personagem com várias tiradas de humor que conhecemos, o que na verdade não atrapalha. Até ajuda.

Sua relação com a tia May é bem secundária. Ela geralmente aparece por pouco tempo em cena, evidenciando o momento pelo qual o garoto passa: as coisas estão mudando. Peter quer muito provar ser um adulto, um herói crescido, mas ele tem apenas 15 anos! Suas atividades extracurriculares estão também em segundo plano. É quase como se ele estivesse esperando para abandonar sua vida, mas o rapaz vive num mundo real onde é preciso fazer provas, passar um tempo com seus amigos e família.

“Homem-Aranha: De Volta ao Lar” talvez queira dizer isso, que apesar de estar inserido em um mundo de super-heróis, Peter é apenas um garoto. Sua conversa com Toomes evidencia muito o fato, tanto quando o vilão percebe quem é o Homem-Aranha, como no momento onde o jovem decide abandonar Liz, filha do vilão, e partir para a luta. E é por essa relação familiar, a propósito, que Toomes e Parker se conhecem formalmente.

O antagonista fala sobre escolhas e responsabilidades, enquanto Peter tem uma coisa em mente, que é parar o vilão. Mesmo sem saber muito bem como, o Aranha se esforça ao máximo para provar que é, sim, apto a fazer algo sozinho – que não seja deter um ladrão de bolsas. Acontece que Peter quase não é capaz de fazer algo por conta própria: ele indiretamente destrói uma loja e parte um navio ao meio, contando na segunda ocasião com a ajuda do Homem-de-Ferro para conter os danos. Aqui vemos um típico adolescente querendo afirmar sua identidade perante o mundo. Entre sua individualidade e o bem coletivo, Peter escolhe a segunda opção, abandonando seus amigos em diversas ocasiões.

Apenas após todos os percalços com o vilão Abutre é que Peter percebe que existem coisas que são grandes demais até para alguém com superpoderes. Talvez isso seja realmente amadurecer, então o garoto recusa a oferta de tornar-se um Vingador oficial e retorna para sua antiga realidade, agora com disposição para passar por exames, participar de seu grupo de estudos e seguir com o fluxo natural das coisas. Finalmente Peter está de volta ao lar, retomando a vida que tinha antes de ganhar seus poderes.