Suspense lançado recentemente pela Netflix, o drama espanhol Silenciadas retrata o período da caça às bruxas no século XV. Baseado no romance A Feiticeira, de Jules Michelet, o filme estreou no top 10 do streaming em seu lançamento. Saiba agora se vale a pena conferir a produção.

Caça às bruxas

O longa se passa no extremo no norte da Espanha, na região chamada de País Basco e já inicia mostrando o destino de todas as mulheres perseguidas pela Inquisição Espanhola: a morte pela fogueira. A mando do rei da época, o juiz Rostegui (Alex Brendemühl) viaja pelo país para eliminar bruxas e tentar descobrir o seu maior segredo, o rito do Sabbath. 

Chegando a uma vila de pescadores, Rostegui manda prender um grupo de meninas que acredita estarem envolvidas com bruxaria. Vários interrogatórios são realizados até uma das garotas, Ana (Amaia Aberasturi), bolar um plano: elas devem se declarar culpadas e contar para ele histórias de um ritual que realizaram, o que lhes dará tempo até o retorno dos marinheiros que poderão salvá-las do cárcere. 

Desenvolvimento gradual

Silenciadas tem uma narrativa simples e bem realizada. As locações são restritas, mas são o suficiente para transmitir uma boa ambientação de época, além de passar a sensação de aprisionamento que se apodera das meninas. Elas são capturadas antes da primeira meia hora do longa e transitam entre sua cela minúscula e a sala de interrogatório.

A trama se torna mais interessante quando vemos o plano de Ana ser colocado em ação. A garota assume a culpa do ocorrido, afirmando que é a única bruxa do grupo e que todas as outras foram enfeitiçadas para participar do Sabbath. Ela se aproveita das informações que o próprio juiz e os outros envolvidos lhe oferecem para criar sua narrativa, utilizando também de aspectos da sua cultura (como músicas) para trazer mais elementos à história.

História verídica

A caça às bruxas foi um momento histórico real e o longa se inspira em um juíz que de fato existiu no passado, o francês Pierre de Lancre, que causou terror com suas perseguições na antiga província de Labourd.

Usando essa realidade como mote de sua trama, Silenciadas vai além e foca no senso de resistência do seu grupo de acusadas. As garotas são bastante sensatas, cuidam umas das outras e fazem um planejamento inteligente para se livrar da sentença da fogueira. Dessa maneira, o filme afugenta qualquer tipo de explicação mística no ocorrido, fazendo questão de ridicularizar as práticas dos carrascos das garotas, que são cruéis, mas baseadas em uma compreensão muito limitada do que eles consideram ser o mal.

É interessante ver como Rostegui é rapidamente atraído por Ana. Depois de passar muito tempo torturando mulheres para descobrir sobre esse ritual que ele considera tão importante, achar uma delas disposta a compartilhar sobre o Sabbath se torna uma grande tentação. O juíz passa até mesmo a ignorar seus conselheiros para saber a informação desejada, caindo por completo no encanto que a garota o coloca ao falar suas histórias mágicas. O personagem quer tanto que aquilo seja real para validar suas crenças, que se torna cego para todo o resto.

Veredito

Silenciadas tem uma narrativa bem desenvolvida, mas que pode soar lenta para muitos espectadores. Um bom parâmetro para colocar aqui é o filme A Bruxa (2016), que possui uma temática semelhante e também não agradou a quem rechaçou o ritmo da narrativa. Mas ao contrário deste, o filme espanhol não se envereda para o lado mais místico da coisa, deixando suas intenções claras desde o início.

Com boas atuações e reflexões sobre religião, lei e justiça, o longa tem uma história fechada, mas cujo fim pode levantar alguns questionamentos. Nada muito complicado, apenas uma conclusão aberta à consideração, além de um tanto abrupta para quem esperava por algo a mais da história.

Pontos positivos

• Bem realizado
• Trama curiosa
• Boas reflexões 

Pontos negativos

• Ritmo cadenciado
• Final abrupto 

Nota: 8,5