Cinco anos após o lançamento do PlayStation 5, a Sucker Punch finalmente entrega um título que parece explorar de verdade o poder e a alma do console. Ghost of Yōtei não é uma continuação direta de Ghost of Tsushima, mas uma expansão daquilo que o estúdio fez de melhor: unir o rigor da história japonesa com a poesia visual das espadas.
Se Tsushima falava sobre honra, Yōtei fala sobre vingança, e como a dor pode ser tão cortante quanto uma lâmina afiada.
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História
A trama de Ghost of Yōtei se passa séculos após os eventos de Jin Sakai. Dessa vez, acompanhamos Atsu, uma ronin que retorna à ilha de Ezo, ao norte do Japão, após anos de exílio e batalhas. Movida pelo trauma de ter perdido a família quando criança, ela parte em busca dos Seis de Yōtei, responsáveis pelo massacre que destruiu sua vida.
A narrativa é direta, quase brutal, mas profundamente eficiente. Em vez de longos discursos sobre dever e filosofia, a história se constrói através do olhar silencioso de Atsu e do peso de cada confronto. A protagonista é uma figura fria, disciplinada e ao mesmo tempo humana, um contraste interessante com o idealismo de Jin Sakai.
O roteiro não tenta reinventar a roda, mas executa com maestria a simplicidade da vingança clássica. As missões principais são intercaladas por lendas e contos sobrenaturais que exploram a espiritualidade japonesa, dando um toque mítico à jornada. Em certos momentos, o jogo lembra mais uma antologia de histórias sobre morte e redenção do que uma narrativa tradicional, e é justamente aí que ele encontra sua força.
Jogabilidade
A Sucker Punch manteve a estrutura aberta de Tsushima, mas expandiu as possibilidades de combate e exploração. Atsu não segue o caminho do samurai, ela luta como uma sobrevivente. O jogador tem acesso a um arsenal diversificado, incluindo katanas duplas, lança yari, odachi e até a mortal kusarigama, uma corrente com lâmina que combina velocidade e alcance.
Cada arma possui vantagens e fraquezas, e o sistema de batalha funciona quase como um jogo de xadrez sangrento: é preciso ler os movimentos do inimigo, reagir no tempo certo e alternar entre estilos de luta. A sensação de impacto é visceral, com animações de precisão impressionante.
As novas mecânicas de desarme e o uso do ambiente trazem mais dinamismo às lutas, e a resposta tátil do DualSense transforma cada parry em uma descarga de tensão física. Ainda assim, o jogo preserva o equilíbrio entre ação e contemplação, há espaço tanto para o caos dos confrontos abertos quanto para a furtividade meticulosa dos assassinatos silenciosos.
O mundo aberto também foi aprimorado. A ilha de Ezo é segmentada em regiões únicas, com ecossistemas, inimigos e condições climáticas distintas. Em áreas cobertas pela neve, por exemplo, o frio extremo reduz a vitalidade de Atsu, exigindo preparo e atenção constante. Essa variedade faz com que a exploração nunca soe repetitiva, e cada nova paisagem traga seus próprios segredos e desafios.
Gráficos
Ghost of Yōtei é, sem exagero, um dos jogos mais belos já criados pela Sucker Punch. Mas sua beleza não vem do realismo técnico, vem da direção de arte. As florestas douradas, os templos em ruínas e os campos cobertos de neblina são tratados como pinturas vivas, cada uma composta com precisão quase cinematográfica.
O jogo é um tributo explícito ao cinema japonês clássico, especialmente a Akira Kurosawa. Cada duelo parece coreografado para uma tela de cinema, com enquadramentos que valorizam a luz, o vento e o contraste das cores.
No modo de performance, rodando a 60 fps estáveis, a experiência é fluida e hipnótica. E o sistema de Modo Foto é tão refinado que se torna quase uma ferramenta artística — um convite para eternizar momentos que parecem quadros de uma galeria.
Mais do que um jogo bonito, Ghost of Yōtei é um jogo com identidade visual, algo cada vez mais raro. Ele não tenta imitar a realidade, ele cria a sua própria.
Trilha Sonora
A trilha sonora é outro ponto alto. Minimalista e precisa, ela mistura instrumentos tradicionais japoneses, como shamisen e taiko, com arranjos orquestrais modernos. O resultado é uma música que respira com o cenário, intensificando emoções sem se sobrepor a elas.
Os efeitos sonoros são meticulosamente trabalhados: o som da lâmina cortando o ar, o estalar das brasas em uma fogueira, o assobio do vento entre as árvores. O DualSense reproduz esses detalhes de forma sensorial, tornando cada passo, golpe e bloqueio uma extensão tátil da narrativa.
A dublagem japonesa é, sem dúvida, a melhor forma de jogar. Ela confere autenticidade e profundidade aos personagens, reforçando a atmosfera de respeito e tragédia que permeia toda a jornada.
Veredito
Ghost of Yōtei é mais do que uma sequência espiritual, é o amadurecimento natural de uma das franquias mais marcantes da PlayStation. A Sucker Punch conseguiu transformar um jogo de ação em uma experiência emocional, onde o peso da vingança e a beleza da impermanência caminham lado a lado.
Atsu é uma protagonista inesquecível: fria como o aço que empunha, mas humana o suficiente para nos lembrar que toda espada carrega o reflexo de quem a segura.
Com um mundo aberto riquíssimo, combates envolventes, uma direção de arte sublime e uma trilha sonora que arrepia, Ghost of Yōtei não é apenas um dos melhores jogos do PS5, é uma obra que reafirma o poder dos videogames como forma de arte.
Pontos Positivos
- Mundo aberto coeso, variado e visualmente impressionante
- Combate refinado com ampla variedade de armas
- Narrativa direta e emocionalmente impactante
- Trilha sonora marcante e uso exemplar do DualSense
- Direção de arte impecável e cinematográfica
Pontos Negativos
- Pequena confusão nos comandos durante trocas rápidas de armas
- Algumas atividades secundárias se repetem
- Dublagem em português perde parte da carga dramática
Nota final: 9.5 / 10