Tom Holland, o atual intérprete do Homem-Aranha, certamente tem muito a agradecer aos Irmãos Russo. Foi em um filme dos diretores – Capitão América: Guerra Civil (2016) – que o ator interpretou o cabeça-de-teia do MCU pela primeira vez e se tornou um astro da noite para o dia.
Cinco anos depois, os Irmãos Russo lançam Cherry – Inocência Perdida, que traz Holland como um protagonista com forte carga dramática. O filme chegou à Apple TV+ e você confere agora o veredito. Se liga!
Horrores da Guerra
Cherry (Holland) é um jovem universitário que, após uma decepção amorosa, se alista ao exército estadunidense e é enviado para a Guerra do Iraque. Lá, ele é treinado como médico e se depara com o lado repulsivo do conflito, retornando para casa dois anos depois.
Ele se reconecta com sua paixão Emily (Ciara Bravo), mas a vida dos dois é desafiada pelo transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) adquirido por Cherry após a guerra.
O longa é baseado no livro de mesmo nome escrito por Nico Walker. Na obra, o autor mistura elementos ficcionais com sua própria experiência como um veterano de guerra que, após voltar para casa desestabilizado, adquiriu um vício em drogas e se tornou um ladrão de bancos – trajetória retratada pelo filme, mas que para o autor teve outros desdobramentos.
Primor visual
A primeira coisa que chama atenção em Cherry – Inocência Perdida é a identidade visual arrojada adotada pelos Irmãos Russo. O longa é dividido em capítulos que, em suas transições, aplicam um filtro vermelho nas imagens e durante alguns blocos assumem proporções de tela distintas. O protagonista Cherry ainda fica a cargo da narração e nos mostra cenas montadas de forma estática para ilustrar o que está sendo dito.
Os diretores concederam ao filme um senso de estilo marcante, que brinca bastante com as cores, ora mais apáticas, ora mais vibrantes, a partir dos sentimentos e momentos de vida dos personagens. O trabalho com o foco das lentes do diretor de fotografia Newton Thomas Sigel, de Drive (2011) também se destaca ao sempre direcionar o olhar do espectador para algum elemento específico em cena.
Em busca de uma razão
Se o aspecto visual do filme é notável, a história a qual somos apresentados é bastante usual. Os envolvidos na produção, incluindo o próprio Tom Holland, destacam a importância de se retratar histórias de soldados que retornam da guerra marcados pelo trauma e sofrem de TEPT, uma causa nobre, mas que aqui não parece tão justificada.
A espiral de drogas e crime em que Cherry se envolve tem um embasamento tépido por parte do roteiro e deixa de fora, por exemplo, personagens relevantes como os pais do protagonista. Sua mãe (interpretada por Ann Ruso, esposa do co-diretor Anthony Russo) aparece em uma ponta quando Cherry os visita em busca de dinheiro, mas sua ausência nunca é explicada.
Veredito
É inegável que o papel de Tom Holland aqui é grande, e talvez seja o seu melhor desde O Impossível (2012), permitindo que o ator passe por um amplo espectro de emoções.
Contudo, por mais que Tom faça um bom trabalho, ele provavelmente não era a melhor escolha para o personagem. Seu rosto afável de garoto, quase inofensivo (e já amplamente associado ao “amigão da vizinhança”), não contribui para a narrativa e dificulta a credibilidade de algumas sequências.
Tematicamente pesado, Cherry – Inocência Perdida não é um filme leve ou fácil de se assistir. Por sorte, a mão dos Irmãos Russo soube trazer um valor visual que equilibra uma tensão e ritmo bem construídos com uma história padrão, ainda que apresente um final capenga e um protagonista mal escalado.
Pontos positivos
- Visualmente estiloso
- Ritmo ditado por capítulos
- Montagem
- Tom Holland
Pontos negativos
- Tom Holland
- Argumento ordinario
- Conclusão
NOTA: 6,7