Parece ter virado um costume da Netflix lançar periodicamente minisséries que furam a bolha e deixam todos malucos comentando, com foi o caso de O Gambito da Rainha (2020), Maid (2021) e Bebê Rena (2024). Agora, em 2025, Adolescência entra para essa lista.
Com apenas quatro episódios, a produção britânica acompanha os desdobramentos do caso de um garoto de 13 anos acusado de homicídio. Além da trama impactante, a minissérie tem chamado a atenção por seus feitos técnicos, discussões atuais e atuações de cair o queixo. Confira agora esses e outros motivos para não perder Adolescência.
1. Primor técnico
Vamos falar logo do elefante na sala e um dos motivos pelos quais a série mais foi comentada: os quatro episódios foram inteiramente filmados em plano-sequência. Isso significa que o que vemos em tela é um único take longo, sem cortes entre as cenas. Algo bem próximo à experiência de assistir a uma peça de teatro.
Para alcançar esse feito, a equipe precisou de semanas de ensaios antes de realizar as filmagens; uma coordenação precisa do time técnico, para que a câmera passe de um take a outro de forma orgânica; além de uma coreografia meticulosa entre atores e figurantes. O episódio 2, por exemplo, conta com mais de 300 pessoas em cena, entre adolescentes e adultos.
Além de ser um feito técnico impressionante, o estilo de filmagem escolhido para a série cria uma atmosfera intensa e claustrofóbica. Sem cortes para aliviar momentos de tensão, o espectador é forçado a vivenciar cada momento junto com os personagens, dirigindo as informações ao mesmo tempo que eles.
2. História envolvente
Outra coisa importante a falar sobre a produção: Adolescência não é uma série investigativa ou de true crime. Desde o início, sabemos que Jamie (Owen Cooper) é culpado. A questão não é descobrir como, mas por quê.
A série não te oferece respostas fáceis. Não há traumas óbvios, lar abusivo ou infância negligenciada para justificar suas ações. Em vez disso, os motivos do garoto vêm de um lugar mais complexo e sombrio, fazendo com que o público encare a terrível verdade de que é uma história que poderia acontecer com qualquer um — e, de fato, acontece.
Essa é uma daquelas produções que busca acender um alerta na cabeça de todos. A internet em geral é um lugar muito mais sombrio do que aparenta e nós, enquanto sociedade, não estamos preparados para proteger as crianças totalmente dos seus perigos. Assim como não há respostas fáceis no roteiro, os problemas apresentados aqui também não possuem soluções fáceis.
3. Elenco afiado
Como já deu para perceber, muitos fatores foram necessários para fazer essa produção acontecer e um essencial foi certamente o elenco. O ator Stephen Graham, por exemplo, além de interpretar o pai de Jamie, também é um dos criadores e escritores da série. Seu personagem enfrenta um dilema emocional intenso: ele quer apoiar o filho, mas a tragédia o consome, trazendo culpa e impotência.
Outro destaque vai para o próprio Jamie. Esse trabalho foi o primeiro do ator Owen Cooper e, para você ter uma ideia, a primeira vez que ele esteve em cena em um set de gravações foi durante o episódio 3.
Outro grande é próprio ator de Jamie. Adolescência é seu primeiro trabalho de atuação, e a estreia já impressiona. Owen Cooper sequer havia pisado em um set de filmagem antes do episódio 3, que se passa quase inteiramente numa sala, onde seu personagem conversa com uma psicóloga. Esse episódio, apesar de sua aparente simplicidade, é um dos mais impactantes.
O texto e a entrega dos atores é tão forte que você mal pisca durante o desenrolar do episódio. Além da performance de Owen, a atuação de Erin Doherty, no papel da psicóloga Briony, torna tudo ainda mais visceral. Quando sua personagem compreende finalmente a verdadeira natureza do garoto com o qual esteve conversando, a revelação é quase insuportável.

4. Narrativa bem conduzida
Já comentei aqui sobre os arcos de certos personagens, como o pai de Jaime e a psicóloga Briony, mas não são apenas eles que tem uma linha de desenvolvimento clara ao longo da minissérie.
É interessante notar como cada episódio de Adolescência funciona como um pequeno filme, com começo, meio e fim bem definidos. Alguns personagens aparecem apenas em um episódio e têm seu arco fechado ali, enquanto outros se desenvolvem ao longo da temporada.
O formato em plano-sequência reforça essa ideia de observação da realidade. A câmera nos coloca como testemunhas de momentos cruciais daquelas vidas, sem acompanhar tudo o que acontece antes ou depois. Quando um personagem sai de cena, é porque sua parte na história já foi contada — e isso basta para transmitir sua mensagem.

Vale a pena assistir?
Adolescência não é uma série fácil, mas sua abordagem inovadora e seu impacto emocional a tornam uma das produções mais memoráveis dos últimos tempos. Se você busca uma experiência intensa, bem atuada e cheia de reflexões, essa minissérie definitivamente merece sua atenção.