A lenda do Lobisomem nunca sai de moda. Pode até ser que fique adormecida por algum tempo, mas a história sempre volta à tona. É com essa premissa que o diretor de O Homem Invisível (2020), Leigh Whannell, revisita o tema em seu novo filme, Lobisomem (2025). Já conferimos o longa e contamos nossas impressões a seguir.
Enredo
Blake (Christopher Abbott) é um escritor que cresceu em uma comunidade afastada nas montanhas do Oregon, onde ele costumava caçar junto de seu pai. Quando cresceu, ele se mudou para Nova Iorque e casou-se com uma jornalista, com quem teve uma filha.
Nesse contexto, Blake recebe a notícia de que seu pai havia morrido e decide ir junto da sua esposa e filha de volta ao Oregon, para a casa onde cresceu. Ao chegar lá, a família começa a notar coisas estranhas.
Um terror inconstante
A premissa do filme é promissora, mesmo sendo um terreno explorado anteriormente. Dessa vez, o foco recai sobre a dinâmica familiar e os traumas que os unem. O início sugere uma narrativa rica, mas o roteiro tropeça ao aprofundar esses temas, deixando várias questões sem resposta. O enredo deixa claro que o casal busca se reconectar, mas isso não ocorre de forma natural e desafia o senso de descrença do espectador.
O primeiro ato é sem dúvidas o ponto alto de Lobisomem. Ele apresenta os personagens com eficiência e não perde tempo em criar pontos de distorções. A direção de Whannell ajuda muito a criar o clima tenso e preparar o ambiente para os possíveis sustos que a narrativa dará. Infelizmente, esse esforço se dissipa à medida que o filme avança. Apesar de acertar em alguns momentos, o terror não se sustenta, e a falta de profundidade emocional em Blake torna difícil se importar com o que acontece ao protagonista.
A lenda do lobisomem
A lenda do lobisomem tem suas raízes na Grécia Antiga. Em As Metamorfoses, de Ovídio, conta-se a história do rei de Arcádia, que, ao servir carne humana a Zeus, foi transformado em lobo como punição. Com o passar dos séculos, o mito se manteve vivo, tornando-se parte do folclore do leste europeu e recebendo interpretações cristãs na Idade Média, muitas vezes associadas à bruxaria.
No cinema, o lobisomem consolidou seu status como um dos monstros mais icônicos, graças aos clássicos da Universal. Ao lado de Drácula, a Múmia e o Homem Invisível, ele ganhou destaque com The Wolf Man (1941), estrelado por Lon Chaney Jr. O filme apresentou o personagem como uma figura trágica e amaldiçoada, adicionando humanidade à criatura e marcando a história do gênero.
Desde então, o monstro tem sido constantemente revisitada em diferentes formas. O horror cômico de Um Lobisomem Americano em Londres (1981) surpreendeu com seu equilíbrio entre sustos e humor. Já Wolfwalkers (2020) trouxe uma abordagem mais lúdica e poética da mitologia, enquanto o brasileiro As Boas Maneiras (2017) explorou uma versão fantástica e socialmente envolvente do mito, demonstrando a versatilidade dessa lenda no cinema global.
Veredito
Lobisomem tenta oferecer uma abordagem diferenciada ao gênero, explorando a dinâmica familiar e o terror psicológico. Porém, a ideia de trabalhar uma conexão familiar deixa muito a desejar e não consegue entregar todo o potencial planejado pela produção. A ideia de apresentar uma nova visão tanto da criatura quanto dos humanos que a enfrentam é ousada, mas o roteiro falha em manter a consistência.
Os atos do filme possuem ritmos distintos. O primeiro impressiona com seu clima tenso e introdução eficiente dos personagens. Já o segundo ato ainda é funcional, construindo momentos angustiantes, embora não desenvolva satisfatoriamente as conexões familiares. No entanto, o último ato deixa a desejar, dando a impressão que sempre tem algo a ser contado quando não há mais nada.
O elenco entrega desempenhos mistos. Julia Garner é o grande destaque, pois consegue entregar uma atuação impecável por meio de olhares tensos, parecendo ser uma mulher que precisa ser forte, mas que se martiriza por isso. Infelizmente, Christopher Abbott não consegue atingir o mesmo potencial da sua colega e deixa a desejar por manter o seu personagem sempre tão previsível.
Pontos positivos:
- Direção
- Plot
- Terror psicológico
Pontos negativos:
- Christopher Abbott
- Último ato cansativo
- O roteiro peca ao trabalhar as conexões familiares
NOTA: 7/10